18 de janeiro de 2014 |
N° 17677
PAULO SANT’ANA
Um homem extraordinário
Só agora se ficou sabendo que
Michael Schumacher, ao se tornar o maior piloto da história da Fórmula-1, não
tinha o fito principal de fazer fortuna e glória. Está provado agora que ele
tinha um supremo ideal ao dirigir seus bólidos pelas pistas do mundo: o seu
imenso prazer pela velocidade e pelo risco.
Tanto que, por ter chegado à
idade-limite para dirigir na Fórmula-1, aposentou-se.
Mas, seguindo a sua vocação de
velocista em esportes arriscados, foi esquiar na neve de Grenoble, França. E
acabou em meio a uma corrida de esqui chocando-se violentamente com um
obstáculo e entrou em coma.
As notícias estão dizendo que
Schumacher, ao que tudo indica, poderá permanecer em coma definitivo, o que
quer dizer que perderá para sempre a consciência e os movimentos.
Ou seja, se for assim, Schumacher
terá o fim que desejou para si: era impossível que, correndo riscos até o fim
de sua vida, trespassando a aposentadoria, não fosse um dia encontrar a morte.
Ou pior que a morte: o coma.
Schumacher acumulou uma fortuna
colossal nas pistas de corridas.
Mas isso não lhe bastava. Ele só
se realizava correndo riscos na velocidade.
E foi então para o esqui, como
poderia ser o voo em asa-delta ou qualquer outra modalidade, como a corrida em
barcos.
Era preciso para Schumi prosseguir
com sua vocação, com o micróbio da velocidade e do risco a correr nas suas
veias.
É linda a história de Schumacher,
embora esteja sendo anunciada como macabra. Porque é sublime que o homem faça o
que gosta, desprezando a fortuna e a glória e atirando-se a sua vocação
histórica e genética, mandando às favas a riqueza e o reconhecimento de seus
feitos.
Ele domava cavalos e dirigia
motos.
O que interessava a Schumacher
não eram os seus feitos e louros, era o que ainda tinha para fazer, não para
obter triunfos ou dinheiro, mas para satisfazer a sua vocação.
Ele está lá em coma e eu estou
aqui nesta coluna a comentar sua saga e a afirmar que Schumacher deixou a vida
útil e a consciência cumprindo o seu dever inarredável de nunca desistir do seu
pendor.
Eu declaro que Schumacher foi um
homem extraordinário, menos pelo que conseguiu do que pela sua obstinação de
encontrar-se com seu destino pela via do seu combustível inafastável: a
adrenalina.