Jaime Cimenti
O Face
O
Facebook é um guri metido para mais de metro, está fazendo dez anos e tomou
conta. Sou um dos 1,61 bilhão de internautas que fazem parte de uma rede
social. Estou no Face, que tem 1,19 bilhão de usuários, e em outras. Pretendia
manter intactos os últimos redutos de minha escassa privacidade e pensava em
não entrar nas redes, mas desisti. Caiu na rede, é peixe. A privacidade acabou
mesmo, para todo mundo, praticamente, qual o problema?
Recebo
centenas, milhares de e-mails e mensagens todo dia. Pena que não tenha dinheiro
para comprar aquela ilha na Polinésia Francesa - onde deve ter wifi - e o
apartamento de US$ 50 milhões na frente do Central Park ,em Nova Iorque, onde
tem tudo. Serviços, mercadorias, relacionamentos e tudo mais estão bem
oferecidos na web, onde a gente, às vezes, está só no meio de milhões.
Domingo
passado eu estava no nosso tropical Litoral Norte, me sentindo o último sapo
debaixo de vários dilúvios, pensando em cortar os pulsos com uma bolacha Maria
e aí fui salvo pelo glorioso Face, o caminho, a verdade e a luz.
Coloquei
uma foto nova no meu perfil, onde estou cantando em pleno Meme, no Clube da
MPB. Pronto, dezenas de amigos, pena que não eram centenas ou milhares,
curtiram e comentaram a foto e me cobraram apresentações. Fui salvo da bolacha
Maria e de assistir ao Faustão. Agora, vou ter de assumir de vez o lado cantor.
Obrigado, Face.
Nas
redes, a gente se informa, retoma contato com velhos amigos e parentes, se
integra, divulga tudo e viaja virtualmente pelo planeta. Mas tem os problemas,
sempre: ficar viciado, navegando às quatro da madruga em vez de dormir, se
exibir demais (ainda existe isso, hoje?), abrir mão de toda privacidade,
encarar os perfis falsos e a superexposição de si e dos outros e ficar mais na
rede do que convivendo e conversando com as pessoas.
Pois é, mas não entrar nas redes é como não ir
na pracinha ou nos shoppings. Não entrar nas redes é mais do que a solidão, a
coisa mais última das pessoas, como disse Clarice Lispector. Desejo que eu e
vocês todos usemos as redes de modo educado, delicado, prazeroso, inteligente,
bem-humorado e da forma mais livre possível.
As
redes não se responsabilizam pelas formas e pelos conteúdos. Como dizia Tom
Jobim, há as “delicatessen” e as “groceries”. Pense um pouco antes de ficar
digitando em clima maníaco. Talvez você não precise contar como foi a primeira
vez da tua vovó e responder a tudo rápido demais. Melhor pegar e ser pegado
leve.