16 de janeiro de 2014 | N° 17675
L. F. VERISSIMO | L.F. VERISSIMO
Nosso herói
Acho que falo por todos os gordinhos sem graça do mundo, por
todos os homens por quem ninguém dá nada, todos os com cara daqueles tios que
nas festas de família ficam num canto e nem os cachorros lhes dão atenção, ou
fazem xixi no seu sapato, todos os que se apaixonam mas não tem coragem de se
aproximar da mulher amada, quanto mais declarar sua paixão, todos os que são
chamados de “chuchu” mas não é um termo carinhoso, é uma referência ao legume
sem gosto, todos os sem sal, os sem encanto, os sem carisma, os sem traquejo,
os sem lábia – enfim, os sem chance – do mundo se disser que o François
Hollande é o nosso herói. Ele é tudo o que nós somos e não somos. É um dos
nossos, mas com uma diferença: no caso dele era disfarce.
A companheira de Hollande, Valerie Trierweiler, que mora com
ele no palácio presidencial e o acompanha em eventos oficiais e viagens, e que
também é chamada de Rottweiler pela ferocidade canina da sua dedicação ao
presidente, está internada com uma crise nervosa provocada pela revelação de
que François tem uma amante, a atriz Julie Gayet, com quem costuma se encontrar
num apartamento perto do palácio. Hollande já teve como companheira uma das
mulheres mais interessantes da França, Ségolène Royal, com quem a fera teve
quatro filhos.
A pergunta que se faz na França é: o que exatamente esse
homem tem que explique seu sucesso com as mulheres? A questão não tem nada a
ver com direito à privacidade. Trata-se de uma curiosidade científica. Se o que
ele tem, e disfarça com aquela cara, puder ser reproduzido em laboratório, será
um alento para a nossa categoria.
E nossa admiração só aumenta com os detalhes das
escapadas de Hollande. Ele vai para seus encontros com Julie numa motocicleta.
O Hollande vai para seus encontros com a amante montado numa motocicleta!
Pintado no seu capacete, quem sabe, um galo, símbolo ao mesmo tempo da França e
do seu próprio vigor. Ainda há esperança, portanto. Se ele pode, nós também
podemos. Pois, se François Hollande nos ensina alguma coisa, é que biologia não
é, afinal, destino.