18 de janeiro de 2014 |
N° 17677
ARTIGOS - Arlete Gudolle
Lopes*
Sonhar
com ensino de qualidade
Mais um ano letivo está prestes a
se iniciar e os mesmos problemas que envolvem a educação se perpetuam sem
visíveis soluções, já que o modelo de ensino adotado tem servido mais como
instrumento para a obtenção de conformidade social, preservação de metodologias
ultrapassadas e improdutivas do que preparador para mudanças. Isso ocorre
porque a escola é o elo conservador da sociedade como produto de ideologia
explícita voltada a manter determinados padrões sociais. Uma sociedade dinâmica
que busca o desenvolvimento requer outro tipo de ensino e de escola, porque
ensinar é um estado latente de preparação para a vida.
Se os gestores da educação
insistirem em confirmar, sustentar e reproduzir um padrão de ensino centrado em
contexto injusto, valendo-se de soluções paliativas com possibilidades de
esquecer sua real função socializante, serão incapazes de transformar a
sociedade internamente. Devem abandonar a cultura do passado e adotar inovações
para que professores e alunos possam enfrentar evoluções rápidas e novas
tecnologias. Ao adotarem objetivos, metodologias e ações docentes
ultrapassados, alimentam o retrocesso cujo resultado induz à desintegração
social, principalmente em países como o Brasil, que não se desvincula de modelo
educacional falido e desconsidera a educação como prioridade nacional.
Nada mudará se a proposta
educativa servir como barreira a qualquer processo desenvolvimentista, social
ou individual, insistir em ações que interfiram de maneira restrita ou quase
nula em mudanças sociais. Se o mundo da escola é universo subjacente, que rompe
e ignora a inerência do homem, ao manter intacta a fórmula de comportamentos,
tratará o aluno como um ente a seu serviço, jamais como o princípio e o fim da
educação.
Verifica-se, salvo honrosas exceções, que o sistema de ensino resume-se a um conjunto burocratizante de preceitos, técnicas e metodologias que não se unificam nem se integram. A adoção de ensino que trata todos da mesma forma, quando o próprio estrato social os diversifica, serve mais para manter um sistema que se mostra discriminador e injusto, gerador de mais conflitos, propulsor de conformismo, acomodação, alienamento e desinteresse dos alunos em relação à atuação escolar.
A educação mudará se seus agentes
a tratarem como processo decisório e desobstacularizador de caminhos para novas
gerações. Mesmo sem protótipos educacionais delimitados, professores podem
usufruir de relativa liberdade para redefinir valores e normas educativas com bases
conscientes, corajosas, sistemáticas, amparadas em novas tecnologias, capazes
de enfraquecer tradições arraigadas que entravam o evoluir do aluno. Com tais
posturas aliadas a mudanças expressivas nas bases pedagógicas e nos currículos
das universidades na preparação de docentes, poderá se sonhar com ensino de
qualidade.
*Professora e escritora