segunda-feira, 29 de janeiro de 2018


29 DE JANEIRO DE 2018
ARTIGO

ACESSIBILIDADE RIMA COM DIGNIDADE


Acessibilidade é assunto que faz parte da minha vida. Sei da carência de equipamentos e de profissionais preparados para estimular a inclusão, apesar das reivindicações constantes e de leis que amenizam as distorções. Diante do cotidiano adverso, me pergunto de que adianta essa luta. Sempre que vou a algum lugar, público ou não, e deparo com as mesmas dificuldades, tenho respostas simples e viáveis, mas que dependem de atitude, sensibilidade, vontade política, enfrentamento da burocracia. Poucos estão interessados.

As instituições bancárias são um exemplo perfeito. Os bancos têm lucros enormes, divulgados aos quatro ventos. Mas não está na pauta dos banqueiros uma verba para oferecer condições adequadas aos clientes com algum problema. Como uma pessoa com nanismo acessa os caixas? A pergunta espanta e todos se esquivam - isso é com o gerente! Ninguém está preocupado. Não há resposta. Muito menos solução.

Por experiência própria, afirmo que é exaustivo reivindicar a mesma coisa cotidianamente. Estamos sempre à mercê da boa vontade do outro, de quem faz o atendimento ou daquele que nos acompanha porque é solidário. Às vezes, cria-se um vácuo constrangedor. As pessoas tentam ser gentis, mas não estão preparadas para esse enfrentamento.

Já escrevi e falei muito sobre isso. Mas hoje minha percepção ultrapassa o nanismo. Estamos tão mergulhados no individualismo e atordoados por governos ilegítimos e insensíveis, que outras questões somam-se à minha preocupação com acessibilidade. Há direitos conquistados que estão nos tirando todos os dias. Há uma imposição da miséria física e moral que precisamos encarar para não cair no jogo de quem nos quer sem voz. Há um cinismo usurpador corroendo nossa dignidade. Enquanto isso, a política sórdida, comandada por homens corruptos que viram as costas para a questão social, é respaldada por um Congresso de homens que se vendem facilmente e por uma Justiça que vai pelo mesmo caminho.

Quero acessibilidade, sem dúvida, mas meu desejo agora é infinitamente maior e urgente - recuperar os direitos que nos roubam a cada anoitecer.

Jornalista leleigira@gmail.com - LELEI TEIXEIRA