10 DE JANEIRO DE 2018
OPINIÃO DA RBS
DESPERDÍCIO DE ENERGIA
Aceleuma ao redor da flexibilização da chamada regra de ouro, que proíbe o governo de obter empréstimos que não sejam usados para investimentos, desvia o foco do esforço para aprovar a mais importante das reformas, a da Previdência.
Depois de acenar com a possibilidade de derrubar uma das barreiras de contenção à farra do endividamento público, o presidente Michel Temer recuou. A insegurança sobre regras básicas do funcionamento da economia brasileira é um sinal negativo. O Palácio do Planalto não pode se deixar mover por humores eleitorais, mas, sim, por uma visão de longo prazo do Brasil.
As reformas aprovadas até agora deram novo ânimo à economia e se refletem em índices animadores de inflação, emprego, confiança, taxa de juros e retomada do consumo. Não há espaço para retrocessos. Mais uma vez, o trem da História nos dá a chance de embarque.
Nesse contexto, os balões de ensaio, lançados de dentro do governo, canalizam energias para outros fins que não aqueles de maior relevância para o país. O ministro da economia, Henrique Meirelles, já se movimenta como candidato. Sem falar na hipótese de Michel Temer se apresentar como sucessor dele mesmo, até agora não desmentida por nenhum dos aliados mais próximos do presidente e muito menos por ele mesmo. Esses movimentos são prematuros e acendem um sinal de alerta.
Antes de pensar em candidaturas, o governo Temer deveria despejar todas as suas reservas de energia nas reformas. Mesmo que isso tenha um alto custo eleitoral. Essa foi a promessa do então vice-presidente quando articulou a sua chegada ao poder.
Reformar a Previdência não é mais uma opção. É uma necessidade. Os parâmetros e as regras dessa mudança precisam ser amplamente discutidos, explicados e aperfeiçoados, para que o país chegue à melhor fórmula possível. Desviar o debate é contraproducente, ainda mais quando se trata da tentativa de retirar um freio à gastança pública, justamente um dos fatores que levaram o país à crise econômica da qual dá sinais de estar saindo.
Depois de todo o desgaste, o mesmo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciou que a discussão sobre a regra de ouro não está enterrada, mas deve ficar para depois da reforma da Previdência. Uma conclusão tão óbvia, que nem precisaria ter-se percorrido um caminho tão tortuoso até chegar a ela.
O governo Temer deveria investir todas as forças nas reformas, mesmo com um alto custo eleitoral