15 DE JANEIRO DE 2018
DAVID COIMBRA
Lula será candidato
Talvez você não tenha percebido, mas Lula será candidato a presidente de qualquer forma, neste 2018, mesmo que seja condenado por 3 a 0 no dia 24. Apesar de toda a gritaria dos petistas, a candidatura de Lula não corre riscos.
Acompanhe o raciocínio: se Lula for condenado, sua defesa pode entrar com embargos de declaração e embargos infringentes. A apreciação desses embargos pelo próprio TRF4 levará meses. Enquanto isso, ele continuará fazendo campanha, como faz desde o ano passado.
Uma candidatura só pode ser impugnada se for lançada - a Justiça não pode cassar algo que não existe. Então, Lula seguirá em campanha, sem se lançar como candidato oficial.
Gleisi Hoffmann já anunciou que só inscreverá a candidatura de Lula no último dia do prazo: 15 de agosto. Feito isso, a lei da Ficha Limpa pode ser aplicada. No entanto, o julgamento também duraria meses e a eleição em primeiro turno ocorrerá em 4 de outubro. É uma campanha curta, de 45 dias.
Quer dizer: Lula concorrerá, ainda que seja condenado, ainda que sua prisão seja determinada, ainda que a lei da Ficha Limpa seja acionada. Você percebe as implicações disso?
Há várias. A primeira é o fortalecimento de Bolsonaro, outro candidato que está em campanha há mais de um ano. A rejeição de Lula é imensa, perto de 60% do eleitorado. Esses vão se radicalizar quando perceberem que Lula é uma ameaça real. E a maioria deles será atirada no colo de Bolsonaro, que, obviamente, é a alternativa mais aguda para quem não suporta mais o PT.
Se Lula conseguir carrear os votos do Norte e do Nordeste e for para o segundo turno, Bolsonaro tem chances sólidas de se eleger. É a repetição do fenômeno Trump, com consequências mais burlescas e mais trágicas, pelo menos para nós, assustados brasileiros.
Outra possibilidade é a eleição de Lula, embora isso seja bastante improvável, porque ele não tem mais a classe média, que tanto lutou para conquistar. Mas, na hipótese remota de que isso aconteça, o Brasil passaria mais quatro anos em amargo conflito. A instabilidade política, que hoje já é nociva, se agravaria. Como Lula deve ser condenado em mais um punhado dos seis processos que enfrenta, se não em todos, ele inevitavelmente acabaria deposto, e o discurso do golpe continuaria vivo e pulsante, e as lutas entre as facções seriam intermináveis.
A saída talvez fosse uma terceira via, que vencesse a eleição e acalmasse o país. Mas quem? Ciro Gomes é agressivo demais e Marina Silva é agressiva de menos para enfrentar uma campanha tão corrosiva. Alckmin tem um carisma de quelônio - ele até se parece com uma tartaruga. Os demais são irrelevantes.
Imagine ter de aguentar mais quatro anos dessa conversa de golpistas e comunistas e elite versus pobres e PT contra MBL. Só de pensar, me dá sono.
Paz. O Brasil precisa de paz.
DAVID COIMBRA