13 DE JANEIRO DE 2018
LYA LUFT
Assédio, que cansaço
Periodicamente, surgem os temas do momento, da moda ou da neura, as obsessões ou as catarses. Às vezes, movimentos mais do que justos.
Nestas semanas, fala-se obsessivamente de assédio: aqui, na Europa, nos Estados Unidos sobretudo, numa erupção vulcânica, às vezes cheirando a enxofre, de acusações justas, invenções cruéis, atitudes ridículas. Moralismo é farisaísmo e hipocrisia numa bela mistura. Prefiro falar em decência natural, e respeito óbvio.
Na Inglaterra, a senhora jornalista de meia-idade de repente lembra: "O ministro tal botou a mão no meu joelho há trinta anos". Vai a público, denuncia. Imediatamente, o ministro, importantíssimo aliás, declara que, sim, vagamente recorda, é culpado, e... se demite. Nos Estados Unidos, mais fanáticos nesses assuntos, um já idoso figurão do cinema e da televisão é acusado por uma das candidatas a emprego, que aceitou entrar com ele no quarto de hotel, e ficou revoltadíssima quando a digna figura lhe exigiu carinhos em troca de aumento ou emprego, ou seja o que for.
Somos mesmo tão ingênuas assim, neste mundo, nesse meio? Não duvido da veracidade de muitas dessas acusações. Nem todas: dificilmente, uma mocinha linda imagina que encontrar-se a sós com um possível chefe - nesse meio - seja um piquenique com Coca-Cola zero e sanduíche de atum. O que, evidentemente, não justifica a suinice do troglodita.
No caso, o big boss era um suíno rematado, parece que dezenas, centenas de mocinhas tinham passado por isso, mas só então, numa abertura de comportas da memória, aos magotes, o crivaram de acusações parecidas. Coisas de cinco, dez, vinte anos atrás. Ninguém tinha presenciado, mas era tudo verdade. Pelo jeito, ele merecia tudo isso e mais.
Num instante, uma quantidade surpreendente de figuras conhecidas na política ou no entretenimento, celebridades em geral, foi objeto de acusações de assédio. Isso sem termos ainda definido bem o que seja assédio: grosseria, ofensa, forçação de barra, estupro? Lembrem que mão no joelho ainda não é considerado, que eu saiba, estupro. Logo, logo, será.
Um raivoso movimento de mulheres brandindo dedos, braços, documentos e acusações afirma que os homens, em princípio, não prestam. Então, nada mais de paqueras, elogios, beijinho na face na hora do encontro, gentilezas no jantar, elogio simpático no elevador. Nada de nada. Psiquiatra só pode atender as pacientes com um guarda ao lado. Não há mais falas às vezes difíceis, talvez doloridas, entre médico e paciente no consultório dele, antes ou depois dos exames. Nada de confiança. Professor ou professora a sós com criança ou adolescente, nem pensar. Portas abertas, e olhe lá. E os tios? Os primos crescidos? O dentista, imagine só?
Enfim, tudo isso mistura o trágico, o real, e o idiota: não confiamos em mais ninguém, esquecendo que assédio real não ocorre só contra meninas ou mocinhas, mas meninos e rapazes. Quem sabe adultos, belos, em cujo pescoço suspeitas virgens se atiram?
Não me crucifiquem, não interpretem mal, aliás nem me interpretem: sou contra qualquer violência, física ou verbal, e não só de homens contra mulheres. Também sou contra mal-entendidos irresponsáveis que podem ter consequências graves. Tenho medo de movimentos nem sempre lúcidos e limpos, reivindicando aos berros uma reforma vaga ou absurda, exigindo um acusado, um tribunal, ou, como disse Oprah, vendo com entusiasmo "uma luz surgindo no horizonte". Todo mundo alerta: a desconfiança se espalha feito chikungunya ou dengue.
LYA LUFT