O Face O Facebook
foi criado por Mark Zuckerberg depois que ele levou um fora de uma menina e resolveu se vingar colocando a farinha no ventilador. Não se sabe qual o futuro do Face e quais serão as próximas e/ou últimas consequências. Estamos esperando que o Face "vire adulto", seja lá o que isto possa significar.
Depois de ser rede social por bons anos, o Face passou a espalhar notícias, verdadeiras e falsas e aí o bicho pegou. No meu tempo de guri, na permanentemente florescente Bento Gonçalves dos anos 1950 e 1960, o Face era a pracinha do Centro, os jornais e a rádio da cidade, dona Dosolina e outras donas que gostavam de colher e passar informações, especialmente sobre aspectos essenciais das vidas alheias. Dona Dosolina ficava na janela muitas horas do dia. Era sua "torre de controle" e nenhum movimento escapava dos seus olhinhos espertos.
Quando ela passava caminhando na frente de nossas casas, nós, meninos "brincalhões", imitávamos as trombetas e a voz do locutor do Repórter Esso. "Atenção, atenção, vai falar o Repórter Esso, atenção" dizíamos, em alto e bom som, em homenagem à dama da informação. Pensando bem, acho que ela não era muito do mal. Era curiosa e, de repente, precisava se ocupar, mesmo que fosse com as ocupações e vidas dos outros. Perto do Face dá para dizer que ela era uma monja.
As praças, os jornais, revistas, rádios e emissoras de TV nunca foram santos e sempre deram espaço para os aspectos menos edificantes dos humanos, que também, quase sempre, não foram e não são exatamente santos. O Face anda, tipo assim, incontrolável. Sim, quem abusar demais pode ser chamado "às barras dos tribunais" e, se bobear, pagar uma grana para o ofendido. Mas antes os estragos são feitos, reputações, carreiras e vidas vão para o ralo e, esses dias, o criador do Face disse que não tinha criado a coisa para o mal e que lamentava certos acontecimentos.
O inventor da dinamite também não gostou de certos usos que os humanos começaram a fazer de sua criação. Nitroglicerina pura on-line, estragos, violência, fofocalhada, coisas boas, mentiras e algoritmos utilizados para fins de todo tipo de intenção. Esses dias pensei em dar um tempo ou abandonar de vez o Face e outras redes, onde tenho 3.114 amigos, até hoje, dia 2 de março.
Daí pensei que sair das redes seria sair da vida e da pracinha eletrônica e que estou "meio" dependente mesmo desses sedutores monstros digitais. Vou tentar manter meu resto de saúde mental e não ficar mais que sete ou oito horas por dia conectado nas geringonças ou "gadjets". I like likes, I love likes, ver fotos de bebês, jovens, adultos, velhos e mortos, gatos, cachorros e outros bichos e fotos de ovos fritos, panquecas, quitutes que os internautas só oferecem na tela e coisas e notícias surpreendentes, que por incrível que pareça, ainda pintam.
A vida, os humanos e os animais são fontes inesgotáveis de surpresas e novidades, o que é até bom. a propósito... Se dou muito pitaco no Face, dizem que sou metido e sempre tem os do contra nesse fla-flu político, futebolístico, econômico, ético e não sei o que mais.
Já tenho inimigos que chega. Se fico quieto, reclamam que não falo nada, que sou alienado. Se digo "é, pode ser", "tens certa razão", " tem os dois lados" e coisas do tipo, tentando evitar maiores conflitos, dizem que sou "político", bonzinho demais, concordino e outros adjetivos menos elegantes. Melhor metamorfose ambulante mesmo.
Mas é isso, caiu na rede é peixe, às vezes tubarão, outras, baleia, e outras lambari na boca da baleia. "Não tá morto quem peleia, já dizia o lambari na boca da baleia." E vamos nessa, que 2018 promete barbaridade.
Jaime Cimenti - Jornal do Comércio - http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2018/02/colunas/livros/613778-babilonia-berco-da-civilizacao.html)