sábado, 4 de agosto de 2018


04 DE AGOSTO DE 2018
ARTIGO

AGOSTO SEM GOSTO



Em agosto-setembro de 1918, há cem anos, a "gripe espanhola" brotou no Brasil e matou 300 mil pessoas, entre elas o ex-presidente Rodrigues Alves, recém eleito para novo mandato, que nunca exerceu. A II Guerra Mundial nasceu a 28 de agosto de 1939, quando Hitler mobilizou seu exército para invadir a Polônia. Em agosto de 1945, o terror atômico caiu sobre Hiroshima e Nagasaki. Aqui, em 24 de agosto de 1954, o presidente Getúlio Vargas suicidou-se, numa tragédia interminável. Sete anos depois, a 25 de agosto de 1961, o presidente Jânio Quadros renunciou e tentaram um golpe.

Em 1964, a ditadura inventou "agostos" em qualquer mês. Depois, voltamos à normalidade, mudamos de século e de epicentros da política e da sociedade. E vimos os novos ídolos tropeçarem em seus pés de barro. Assim, em 31 de agosto de 2016, Temer assumiu a Presidência em forma definitiva, não como mero "vice" interino.

Que outros desastres podemos esperar neste agosto, mês do desgosto?

Agora, o que aflige e angustia é o fúnebre desinteresse e apatia pela eleição de presidente, governadores e parlamentares. Com partidos que são aglomerados de gente sustentada pelos milhões do fundo partidário e sempre em bu$ca de mai$ negócio$, os candidatos viraram papagaios falantes. Recitam generalidades sem significado, numa pobreza de ideias que iguala, até, os que parecem diferentes.

Ninguém apresenta programas concretos de governo. Tudo é vago e genérico. O que dizem serve para uma festa de aniversário ou para um enterro, basta mudar o tom.

A pobreza é tão ampla e profunda, que chega a abrir espaço para nomes como Lula da Silva e Jair Bolsonaro, iguais um ao outro no tom místico e autoritário, na habilidade de nunca revelar o que são. Nada os diferencia. Nem que um tenha pose de "esquerda" e o outro pose de "direita". Jamais alguma pose definiu alguém, e é apenas "uma pose", tão falsa e quebradiça como um anel de vidro.

O que distingue o encarcerado Lula do não encarcerado Bolsonaro é só a habilidade de se esconder mais ou ocultar-se menos. Eles próprios se desnudam em público alegando que jamais foram o que são nem como agem, resumindo o que a política tem de perigoso ou, até, de perverso - a "enganação", como diz o povo.

Haverá tempo de "os outros" retificarem o rumo, dando algum gosto a este agosto, mês do desgosto? Ou teremos apenas um esgoto?

Jornalista e escritor - FLÁVIO TAVARES