sábado, 4 de agosto de 2018


04 DE AGOSTO DE 2018
EM FAMÍLIA


UM ALMOÇO DE DOMINGO DURANTE A SEMANA INTEIRA, 24H POR DIA

GRUPOS DE FAMÍLIA NO WHATSAPP FACILITAM A COMUNICAÇÃO, MAS PODEM GERAR DIVERSOS DESENTENDIMENTOS
Antes mesmo de lavar o rosto ou arrumar a cama, Jaqueline Durgant, 53 anos, começa a manhã respondendo as mensagens de "bom dia!" no grupo da família no WhatsApp. Para ela, não é chateação - a empregada doméstica é uma das mais empenhadas em manter a tradição que liga os Durgant da Capital, do Interior e de Santa Catarina.

- Todo mundo tem que dar bom dia - explica. - E, se não responde, já chama no privado para ver se está magoado.

Invenção valiosa para aproximar o parente que mora longe, mas danada para quem tem pouca paciência ou pavio curto, o grupo de família no Whats chegou para ficar. A empresa não divulga estimativa de quantos existem, mas nem mesmo a família mais célebre do planeta escapa: no começo do ano, o marido de uma neta da rainha Elizabeth revelou ao The Daily Mirror que a realeza britânica também usa a ferramenta.

Além de notificações que não acabam mais, o resultado é um onipresente churrasco de domingo, a semana inteira, 24 horas por dia. Está tudo lá: corneta de futebol, discussão por causa de política, fotos constrangedoras, um festival de piada de tiozão (literalmente) e os monólogos da tia tagarela, que viram áudios de cinco minutos - ou mais.

O que está lá também, segundo a terapeuta cognitiva e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS Carolina Lisboa, é um conflito de gerações entre quem já nasceu na era tecnológica e quem está começando a usar esses aplicativos. Isso explica as listas em blogs e perfis no Instagram com engraçados mal-entendidos envolvendo os mais velhos. Ou então é o parente de mais idade que pode não entender algum emoji ou abreviação e achar algum comentário dos mais jovens desrespeitoso.

Mas o grande perigo desses grupos é que na conversa pelo aplicativo não há todos os elementos da comunicação "olho no olho", segundo Carolina, o que pode levar alguém a falar a coisa errada, na forma errada ou no momento errado - e iniciar um desentendimento.

- No grupo de família, já se tem o pressuposto de que todos são íntimos, então, há uma certa legitimidade para falar o que quiser. E no Whats ainda há a facilidade de mandar a mensagem com um clique. Às vezes, isso é uma bomba - afirma Carolina.

Depois de algumas brigas, a solução encontrada pela família de Rosangela Martins, 41 anos, foi fragmentar o grupo da Grande Família. Hoje, eles têm o grupo da esquerda, o da direita e um focado na organização de festas.

- Quando começamos com os grupos, nem me dava conta de que tinha tanta diferença (entre os parentes) - diz a funcionária pública.
JÉSSICA REBECA WEBER