07 DE AGOSTO DE 2018
POLÍTICA
País herdou indolência do índio e malandragem do negro, diz Mourão
PARA BOLSONARO, imprensa já volta baterias para cima do seu vice
Em visita a Caxias do Sul, na Serra, ontem, um dia após ser confirmado como vice do candidato a presidente da República pelo PSL, Jair Bolsonaro, o general reformado do Exército Antonio Hamilton Mourão (PRTB) disse que os índios são indolentes e os negros, malandros. O comentário dele, ao falar sobre a herança cultural brasileira, criou constrangimento na reunião- almoço da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços, em especial, porque citou o vereador Edson da Rosa (MDB), que é negro e fazia parte da mesa representando o Legislativo do município.
- Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena, minha gente, meu pai era amazonense. E a malandragem. Edson Rosa, nada contra, viu, mas a malandragem que é oriunda do africano. Esse é o nosso caldinho cultural - afirmou Mourão, destacando a importância em superar o complexo de vira-latas que os brasileiros, na opinião dele, têm.
Presente em Gramado para seminário voltado ao agronegócio ontem à noite, Bolsonaro fez referência, logo no começo de seu discurso, à polêmica gerada pela manifestação de seu vice.
- A imprensa já volta as baterias para cima dele, e grande parte da nossa imprensa não merece credibilidade - reagiu.
Em entrevista a ZH, em Gramado, Mourão reclamou que a repercussão de sua fala foi enviesada.
- Tenho dito isso em todos os lugares. Somos uma amálgama de três raças: do branco, europeu; do índio, que já estava na América; e do negro africano, que foi trazido escravo para cá. Sou filho de amazonense, meu sangue é indígena total. Cada raça tem suas coisas boas e coisas ruins, que se juntaram na raça brasileira. Falei que o branco gosta de privilégio, mas ninguém comentou isso - afirmou.
Edson da Rosa disse que não encarou a manifestação como ofensa.
- Ele (Mourão) é pardo. Inclusive, falou que o pai dele é indígena. Não falaria mal do pai dele, estaria desconstituindo o próprio pai. Ele tratou o africano em uma dimensão enquanto criação do homem. Passo ao largo (da polêmica). Na grande maioria, os negros não se sentem e não são malandros. Na grande maioria, os índios não se sentem e não são indolentes. Quem tem de responder se houve alguma outra conotação é o general Mourão. Fui recebido representando a Câmara e ele me tratou com muita cordialidade - reagiu.
Mourão criticou também o Foro de São Paulo (conferência de organizações de esquerda) e políticos de diferentes ideologias "abraçados à corrupção", assim como "populistas" e pessoas que são "reféns" de pesquisas eleitorais. Não poupou críticas à elite, que, na sua visão, permite o "empobrecimento cultural" aceitando "placidamente que a nossa cultura seja formada por Anitta, Pabllo Vittar e Jojo Todynho".
O general reformado defendeu o livre mercado, o impulso às exportações e revisão da gestão do serviço público, com menos cargos em comissão e mais servidores de carreira. Além disso, destacou a necessidade da reforma tributária, com redução de impostos, e de um novo pacto federativo, com a distribuição dos recursos nos Estados e municípios.
- Não faz sentido o prefeito de Caxias do Sul sair daqui para mendigar recursos em Brasília. O prefeito tem de ter o recurso na mão dele. Isso é o novo pacto federativo - afirmou.
No evento em Gramado, Bolsonaro disse que não deixará passar as tratativas que ocorrem no Congresso de cobrar ICMS do produtor rural. Prometeu terminar com as ações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e tentará tipificá-las como terrorismo.
JULIANA BEVILAQUA* DÉBORA CADEMARTORI