14 DE DEZEMBRO DE 2018
OPINIÃO DA RBS
DISTORÇÃO NO CUSTO DO CRÉDITO
O futuro governo precisa assumir o compromisso de usar as alternativas disponíveis para fazer com que a queda na taxa básica de juros venha a favorecer também o tomador final
A taxa básica de juros caiu ao seu menor patamar histórico ao ser mantida pela sexta vez consecutiva em 6,5% pelo Banco Central. O ganho, porém, não está sendo repassado na mesma proporção ao consumidor pessoa física ou jurídica na hora da contratação de crédito. Um dos desafios do futuro governo é fazer com que essa queda seja transferida na mesma proporção de quem compra a prazo, contribuindo para mais consumo, mais crescimento econômico e mais emprego.
O inaceitável é que essa sucessão de reduções, encaminhando-se para o maior período consecutivo de baixa histórica, venha favorecendo até agora mais o sistema bancário, que dispõe de maior margem para negociação. O período, atípico para a economia brasileira, de longa estabilidade da taxa básica é consequência da combinação de inflação controlada e atividade econômica fraca. A continuidade dessa tendência em 2019, porém, vai depender de um horizonte claro de melhoria fiscal com o futuro governo.
Até maio, quando o Banco Central interrompeu a política de reduções na taxa Selic, que serve de referência para as linhas de crédito brasileiras, o juro básico acumulou queda de 53,6%. No mesmo perío- do, a redução para pessoa física limitou-se a 22,9%. No caso da pessoa jurídica, a redução foi de 29,7%. É uma diferença muito acentuada, que não faz sentido num cenário de inflação sob controle.
O futuro governo precisa assumir o compromisso de usar as alternativas disponíveis, sem intervir no mercado, para fazer com que a queda na taxa básica de juros venha a favorecer também o tomador final. Um dos caminhos é tentar reverter uma tendência cada vez mais acentuada nos níveis de concentração do sistema financeiro. A competição entre bancos é um pressuposto para taxas de juros mais compatíveis. É preciso também criar as condições para a redução nos níveis de inadimplência. E, ao mesmo tempo, enfrentar as razões que levam os bancos a manter patamares tão elevados de spread - a diferença entre o custo da captação de dinheiro e a taxa efetivamente cobrada dos clientes.
Acima de tudo, é importante que a taxa básica de juros se mantenha numa trajetória de estabilidade daqui para a frente - de preferência, de queda. As condições para essa conquista vão depender basicamente da capacidade do novo governo de aprovar reformas como a da Previdência, que são fundamentais para um cenário de estabilidade sob o ponto de vista fiscal.
OPINIÃO DA RBS
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