Jaime Cimenti
O ano de 2018
Quem pensou que 2017 foi um ano muito louco e imprevisível deve estar pensando agora que 2018 foi bem mais bizarro e que 2019 promete superar os dois. Nos tempos em que o Frank Sinatra cantava o lendário chubidubidu, o céu era o limite.
Hoje, os limites vão além do céu, vão para lá do infinito que ninguém sabe onde termina. Os limites morreram. Falando em falta de limites, há quem diga que o Papai Noel vai ser preso brevemente em decorrência de acusações de exploração de trabalho infantil, trabalho escravo e assédio moral em relação aos anões operários da fábrica de brinquedos.
Os anões da fábrica do Bom Velhinho seriam menores, e, assim, seriam vítimas das irregularidades, trabalhando de graça. O Ministério Público Universal está de olho em tudo e haveria acusações, também, de maus tratos às pobres renas que todo ano, no clima gelado, puxam o trenó com o velhinho gorducho e as toneladas de presentes.
Há relatos de protetores de animais dando conta de que as renas estariam mostrando sinais de estresse e sofrimento. Certos setores da polícia internacional e dos ministérios da Fazenda de alguns países estariam questionando sobre a falta de pagamento de impostos de exportação/importação e ocorrência de crime de contrabando, pois há circulação de mercadorias. Em caso de contrabando poderá ocorrer a apreensão do veículo utilizado, ou seja, o poderoso trenó. Bom, isso tudo deve ser fake, mas nesse planeta tudo é possível e inimaginável.
O ano de 2018 teve ex-presidente preso, tiros no ônibus da caravana do Lula, facada na barriga do Bolsonaro, redes sociais calando a boca de profetas furados como escumadeiras e mostrando que a TV, o rádio e a dinossáurica mídia impressa não são essa Coca-Cola toda. Ninguém sacou o tamanho e o alcance dos protestos de 2013 e as redes sociais revelaram uma fome de mudanças nunca vista. As eleições deste ano estão sendo consideradas como as mais surpreendentes da história, mas as futuras eleições prometem ainda mais. Quem viver, conseguindo não levar um balaço político letal, uma facada eleitoral mortífera ou tiro de assaltante, verá.
O ano de 2018 teve o cinematográfico casamento real na Inglaterra, entre o rebelde caçula Harry, agora senhor comportado, com a plebeia Megan, que deve obedecer doravante o protocolo da realeza e ficar sempre um pouco atrás da cunhada Kate. Também tivemos um afinadíssimo grupo de afrodescendentes cantando, no casório real, a imortal Stand by me em plena Abadia de Westminster. Apresentação até comedida, sem vozes muito altas ou danças, mas tocante e reveladora de novos comportamentos em novos mundos. John Lennon não faria melhor.
Definitivamente, 2018 foi o ano das redes sociais, o ano em que vivemos perigosamente, bem perigosamente, em meio aos tapas e beijos virtuais, brigas de amigos, parentes e inimigos. Pretextos políticos foram utilizados para sair xingando, na pressa típica da web, todo mundo. Nunca houve divisão igual e tão descentrada. Foi um fio desencapado esse 2018.
A propósito...
Teve de tudo um pouco o ano que termina: muita tensão, altos e baixos, e vai deixar suas marcas indeléveis, tipo 1968, o ano aquele que não acabou e, que, aliás, na França, teve uma espécie de refilmagem. O ano foi uma terapia coletiva ruidosa, sem terapeuta para coordenar. Um gritedo geral, esqueletos tirados dos armários e expostos em praça pública.
Depois do destampatório, que venham novos tempos, novos anos, com a calma, a serenidade e a democracia esperadas. Ninguém aguentaria tão cedo um novo 2018. Ou será que 2019 será ainda mais chocante? Não vou profetizar sobre o futuro. Melhor profetizar o passado e o presente. Melhor não pensar muito e deixar que as luzes do sol e da lua iluminem o pedaço e os pedaços, os todos e os cacos. -
Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/colunas/livros/2018/12/662481-o-gaucho-e-as-mudancas.html)
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