22 DE DEZEMBRO DE 2018
VARIANDO
O VALOR DOS PRESENTES
O Natal é a época de relançar o convívio com os mais próximos e da esperança de refazer os laços partidos, tempo de perdoar e ser perdoado. Mas isso não vale para todos. Para alguns, a data abre a porta para um tormento: a troca de presentes ao pé da árvore. Odeiam encenar o Papai Noel que os faz gastar e caminhar atrás de objetos que nunca parecem adequados.
Resmungam contra o capitalismo, contra a socie- dade de consumo, contra os shoppings, contra tudo o que lembra compras de Natal. Têm pesadelos com o amigo-secreto da firma, alergia a renas, sobressaltos a guirlandas, pânico de canções natalinas. Sentem-se aprisionados a uma empreitada social forçada.
Tenho simpatia por esses sofredores, entendo as queixas, mas eles erram o alvo. Encontramos em várias sociedades simples, antes da contaminação pelo nosso mundo, rituais de presentes que exigem contraprestações. Ou seja, é demasiado humano e arcaico trocar objetos como forma de dar materialidade a laços sociais. O Natal é apenas o nosso momento privilegiado de troca. Portanto resmunguem contra a humanidade, tentem, na próxima encarnação, outra espécie ou outro planeta.
Mas vamos ao cerne da questão. O drama é pesar e quantificar o amor. Cada presente, cada lembrancinha, traz um cálculo embutido: o quanto cada um vale para os outros. É aqui que nossos resmungões se atolam, na dificílima contabilidade amorosa. O medo de esquecer e de não ser lembrado. Enfim, a planilha do Excel amoroso dá muito trabalho.
Não há muito o que fazer, é arregaçar as mãos e ir ocupar-se dos outros. Não esqueça que seus amados não querem apenas o presente, querem saber se você sabe deles, e nisso está a adequação do objeto. Conferem se está bem embrulhado, se foi difícil achá-lo. Eles querem ocupá-lo, querem seu tempo. Vida em sociedade pede isso, meus caros ermitões.
Há famílias e grupos que medem a força dos vínculos pela bolsa de valores dos presentes, conhecem etiquetas e sacolas, decifram os cifrões ocultos. Acho triste quando o dom é demasiado material, sintoma do enfraquecimento dos laços que o dinheiro viria a sanar. Creio que disso reclamam os natalofóbicos e aqui me junto a eles.
É possível resistir. Os cartões, além do "de" - "para", embalam um objeto com balanços afetivos, relançam votos de mútua atenção. Faça você mesmo seus presentes se tiver algum dom. Brinque com o que você sabe dos seus. Procure objetos ímpares fora do circuito tradicional. Bote a cabeça a funcionar e invente mimos alternativos. Dê livros. Presenteie com convites, propostas de experiências: levar o sobrinho no estádio, pescar com o afilhado, organizar um piquenique com os netos.
O Natal é o vestibular anual dos vínculos. Antes do fim do ano, não vem mal a exigência de prestar conta da capacidade de sermos gentis, amorosos e, principalmente, atentos.
MÁRIO CORSO
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