15 DE DEZEMBRO DE 2018
HORIZONTES
Millenials impõem desafios educacionais
Quando nos propomos a refletir sobre a educação das juventudes contemporâneas, rapidamente reconhecemos que sua formação merece ser pensada a partir de outros enquadramentos, diferentes daquelas normas e padrões que delinearam as gerações que nos precederam. As universidades e os variados sistemas de ensino tanto públicos quanto privados gradativamente estão assumindo a tarefa de repensarem-se, ajustando-se às novas demandas sociais e econômicas e, principalmente, reconhecendo que seus públicos não são mais os mesmos. As crianças e os jovens, nascidos nas últimas três décadas, estão crescendo em um mundo com inúmeras fontes de informação, novos modos de relacionamento social e experienciando aprendizagens de conhecimentos cada vez mais complexos e menos permanentes.
Millenials é um dos inúmeros termos disseminados pela literatura especializada para a descrição subjetiva desses novos indivíduos. As suas habilidades para o manejo das tecnologias digitais, suas formas de prestar atenção em múltiplos objetos de conhecimento ao mesmo tempo e sua agilidade no tratamento das informações são destacadas por uma vasta produção científica (brasileira e estrangeira) na atualidade. Nossas instituições educativas têm sido interpeladas, a partir deste conjunto de condições, a repensar seus currículos, seus espaços de aprendizagem e, talvez de uma maneira mais urgente, seus modos de relação com o conhecimento. Esboça-se um consenso: a universidade do século 21 não será mais a mesma!
Todavia, ao estabelecermos uma reflexão séria sobre nossos desenhos institucionais para um novo tempo, precisamos considerar a questão da desigualdade. Foi publicado no início deste mês a pesquisa "Millenials na América e no Caribe: trabalhar ou estudar?", visando traçar um diagnóstico da juventude na região, considerando as respostas de 15 mil jovens na faixa etária de 15 a 24 anos. De acordo com esses dados, constatou-se que cerca de 21% dos jovens não estudam, nem trabalham - no Brasil, esse número equivale a cerca de 33 milhões de jovens. A mesma pesquisa indica também que 41% só estudam, 21% só trabalham e 17% trabalham e estudam ao mesmo tempo. Delinear possibilidades formativas para esses jovens implica necessariamente no reconhecimento da precariedade que perfaz suas existências em nosso continente.
A referida investigação, conduzida por reconhecidos centros de pesquisa, também descreve que os jovens da América Latina e do Caribe evidenciam algum tipo de atraso em suas capacidades cognitivas. O documento final da pesquisa aponta que cerca de 40% dos entrevistados não conseguem realizar cálculos matemáticos relativamente simples "como dividir certa quantia de dinheiro em partes iguais". Explicita-se também a carência de habilidades técnicas e de conhecimento da dinâmica do mundo do trabalho e das profissões. Por outro lado, no que tange às nomeadas competências socioemocionais, os resultados caminham em direção oposta. Os jovens latino-americanos e caribenhos demonstraram níveis altos de autoestima, autoeficácia e perseverança. Nesse âmbito, a pesquisa nos explicita uma interessante condição de ambivalência, qual seja: ainda que desprovidos de conhecimentos básicos e determinadas habilidades profissionais, nossos jovens são otimistas com relação ao seu futuro.
Para fins deste texto, gostaria de destacar que a gramática formativa centrada em torno das potencialidades dos Millenials - em suas condições de inovação e de promoção de crescimento econômico para a região - precisam ser cotejadas com a questão das desigualdades. A despeito das indiscutíveis habilidades que essa geração possui, as oportunidades educacionais e a inserção intermitente no mercado de trabalho bloqueiam seu pleno desenvolvimento. Nossas instituições de ensino precisam assumir como tarefa seu reposicionamento curricular para atender a pluralidade de demandas advindas dos Millenials; porém, não seria desejável que esquecessem as matrizes de desigualdade que ainda perfazem seus modos de habitar o século 21. Em outras palavras: precisamos de prudência para que nossa necessidade de inovação não engendre novos dispositivos de precarização existencial de nossos jovens - eis o nosso desafio!
Doutor em Educação e professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unisinos robertoddsilva@yahoo.com.br - ROBERTO RAFAEL DIAS DA SILVA
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