19 DE DEZEMBRO DE 2018
DAVID COIMBRA
João de Deus, o Rasputin caboclo
João de Deus é o nosso Rasputin. De Rasputin, se você quiser, ainda pode ver um pedaço. O pênis dele está exposto no Museu do Erotismo, de São Petersburgo. É uma peça em forma de tromba de elefante medindo impressionantes 28,5 centímetros. Os russos se orgulham das dimensões do membro do monge. Há quem o compare com um pênis famoso que está em poder dos americanos, o de Napoleão, que tem melancólicos 3,5 centímetros de extensão. Ou seja: Napoleão era o que no IAPI chamávamos de "bico de chaleira".
Rasputin, de certa maneira, viveu para aquele pênis, como talvez viva João de Deus para o seu. Aliás, Rasputin não se chamava Rasputin, como João de Deus não se chama João de Deus. Rasputin, em russo, significa "pervertido", e é o que ele era, e é o que João parece ser.
Mas Rasputin era um pervertido com justificativa filosófica. Ele dizia que Deus se agradava quando pecávamos, porque só assim se alegraria quando nos arrependêssemos. De fato, uma vez os fariseus, que funcionavam como as redes sociais do século I, criticaram Jesus porque ele andava cercado de pecadores. Jesus respondeu perguntando através de uma parábola, como era de seu feitio:
"Quem de vós que tem cem ovelhas e perde uma não deixa as 99 no deserto e vai atrás daquela que se perdeu, até encontrá-la? E, quando a encontra, alegre a põe nos ombros e, chegando em casa, reúne os amigos e vizinhos e diz: ?Alegrai-vos comigo! Encontrei minha ovelha que estava perdida!?. Eu vos digo: assim haverá no Céu mais alegria por um só pecador que se converte do que por 99 justos que não precisam de conversão".
Era com essa conversinha que Rasputin convencia as russas a pecar com ele e aquele seu chambrelão de 28,5 centímetros. Então, elas pecavam bastante, pecavam desavergonhadamente, melecantemente, para, depois, se arrependerem e, assim, fazer a alegria do Céu. Segundo Rasputin, era esse júbilo celeste que lhe concedia os poderes de cura que o consagraram.
Essa pequena palavra, "cura", é a espinha dorsal do sucesso de Rasputin e de João de Deus. Quem sofre faz qualquer coisa para se curar. Aí surge um homem que diz ser dotado de poderes transcendentais, que pode agir onde os médicos não agem. Por que não tentar?
Seguindo essa lógica, a imperatriz da Rússia, Alexandra, atirou-se nos braços de Rasputin, que, supostamente, aliviava seu filho, Alexei, das crises de hemofilia. Na época, dizia-se que Alexandra tinha um caso com Rasputin. Mais tarde, historiadores negaram essa hipótese. Recentemente, porém, foram descobertos telegramas em que ela se esfarinhava toda de paixão por ele. Quer dizer: a imperatriz se repimpava mesmo com o monge.
O monge tinha influência sobre a czarina, que, por sua vez, tinha influência sobre o marido, o czar Nicolau II. Logo, o monge tinha influência sobre o governo. Há historiadores que alegam que esse tráfico de influências ajudou na queda do czar e na ascensão dos bolcheviques, e pode ser que tenha ajudado um pouco, realmente.
João de Deus também foi frequentado pelo poder. Lula, Dilma, Aécio e Temer se consultaram com ele, entre outros menos ilustres. Teria João de Deus lhes dado algum conselho ou palpite a respeito do país? Terá o destino do Brasil se movido, uma polegada que seja, por causa de João de Deus? Não sei, mas sei como acabou Rasputin: boiando nas águas geladas do Rio Neva, 102 dezembros atrás. Como dizia Lincoln, pode-se enganar a todos por algum tempo e a alguns por todo o tempo, mas não a todos por todo o tempo.
DAVID COIMBRA
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