quinta-feira, 24 de janeiro de 2019



24 DE JANEIRO DE 2019
CINEMA

Viajando entre controvérsias

"Green book: o guia", filme que estreia hoje e está indicado a cinco Oscar, vem colecionando polêmicas e prêmios
Se a quantidade de polêmicas servir de termômetro para o Oscar, Green Book: O Guia, que estreia no Brasil hoje, acelera na corrida pela estatueta. O longa de Peter Farrelly, mais conhecido pelas comédias debochadas Debi & Loide (1994) e Quem Vai Ficar com Mary? (1998), não somente recebeu cinco indicações ao prêmio, incluindo melhor filme, mas coleciona controvérsias.

A primeira surgiu entre a família de Don Shirley, pianista negro falecido em 2013, interpretado por Mahershala Ali (Moonlight). Os parentes alegam que a história da viagem de Shirley ao sul dos Estados Unidos com o motorista branco Tony Lip (Viggo Mortensen), em 1962, é "uma sinfonia de mentiras". Na jornada, em uma região racista amparada por leis de segregação, a dupla debate os próprios preconceitos usando o "livro verde" - guia criado em 1936 para ajudar viajantes negros a saber onde comer, dormir ou abastecer o carro.

- Guardei essa história por 25 anos, desde que comecei a ouvir a versão do meu pai - conta o roteirista Nick Vallelonga, filho de Tony, que retrata um pianista escondendo sua homossexualidade proibida. - Shirley me confirmou tudo, mas me pediu para não escrever antes da sua morte. Era um homem muito reservado.

Como o filme estacionou em uma bilheteria modesta, em torno dos US$ 40 milhões (cerca de RS 150 milhões), o caso não foi levado adiante. Em seguida, o ator Viggo Mortensen proferiu o termo "nigger" em um debate, considerado ofensivo à comunidade afro. A intenção era explicar como a palavra não é mais aceita hoje, mas incomodou.

- Embora minha intenção tenha sido falar de maneira forte contra o racismo, não tenho o direito de sequer imaginar a dor que a palavra causa - desculpou-se Mortensen, ironicamente um dos atores mais conscientes de Hollywood.

AÇÕES DE DIRETOR POSTAS NA BERLINDA

O próprio Viggo relutou em viver o papel de um ítalo-americano por não "querer desrespeitar a comunidade com estereótipos" - segundo Vallelonga, o ator James Gandolfini (Sopranos) estava ligado ao papel até sua morte, em 2013.

Já Mahershala Ali não conhecia Don Shirley e precisou ver documentários para capturar seus modos elegantes e maneira de tocar.

- Tenho um físico diferente e um tom mais baixo de voz, mas procurei incorporar seus gestos - afirma.

A química entre a dupla é visível e superou até mesmo outra revelação: o cineasta, Peter Farrelly, costumava exibir sua genitália como forma de "brincadeira" nos sets das suas comédias anteriores.

- Eu era um idiota - disse o diretor, que muitos não levam a sério.

- Se Green Book tivesse Woody Allen ou Steven Spielberg no pôster, todos estariam falando que é uma obra-prima - questiona Mortensen sobre esse Conduzindo Miss Daisy (1989) às avessas.

O roteirista Nick Villalonga também não ajudou quando um tuíte seu de 2015 ressurgiu, concordando com a afirmação falsa de Donald Trump sobre ter visto muçulmanos em Nova Jersey comemorando a queda das Torres Gêmeas, após o ataque de 2001.

Villalonga apagou a conta e pediu desculpas, possivelmente direcionando-se a Mahershala Ali, que é mulçumano. Mesmo assim, Green Book está desviando das críticas e levou o prêmio do Sindicato dos Produtores, um dos maiores termômetros do Oscar. Mas detratores seguem dizendo que o assunto não deveria fazer parte de uma comédia.

- Comediantes como Chris Rock e Dave Chappelle não falam sobre assuntos fáceis - rebate Ali. - O racismo foi tratado de várias maneiras no cinema. Temos Barry Jenkins, que rasga a alma, e Spike Lee, com um equilíbrio entre drama e comédia. Peter não é negro, mas a história tem uma forte presença negra. Se pessoas vão ao cinema para rir, talvez saiam com algo para pensar.

"A Favorita" encena luta íntima pelo poder

Entra em cartaz hoje A Favorita, um dos campeões de indicações ao Oscar deste ano (10 estatuetas, ao lado de Roma). Dirigido pelo grego Yorgos Lanthimos, o filme mostra a luta íntima pela influência na corte inglesa da rainha Anne no início do século 18. Fraca, manipulável e infantilizada, a soberana (vivida por Olivia Colman) é o centro de uma disputa de influências entre a maquiavélica Sarah Churchill (Rachel Weisz), a "favorita" do título, e a ambiciosa recém-chegada Abigail (Emma Stone), que quer subir de criada a nova preferida da monarca. Veja salas e horários na página 6.

Do YouTube para a tela, Kéfera aborda bullying

Eu Sou mais Eu estreia hoje como um novo veículo para a youtuber Kéfera Buchmann, que vem investindo em sua carreira nos cinema - estrelou, entre outros filmes, É Fada! (2016).

Na trama de Eu Sou mais Eu, que se assemelha à de comédias como De Repente, 30 (2004), Kéfera interpreta Camila, cantora famosa e temperamental que, após destratar uma fã com poderes mágicos, é enviada 15 anos para o passado. De volta à escola em que sofria bullying, Camila tem de enfrentar, outra vez, as perseguições infligidas pelos colegas.

Folhapress Los Angeles - RODRIGO SALEM

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