quarta-feira, 23 de janeiro de 2019



23 DE JANEIRO DE 2019
DAVID COIMBRA

O filme que mais fez chorar na história

Teve gente que chorou ao ver o filme Roma, fiquei sabendo. Não chorei. Gostei, é bom e tal, mas nem acho que valha cinco estrelas. Quando muito, quatro e uma pontinha.

No fim dos anos 70 é que foi lançado o filme que mais fez chorar em toda a história do cinema. Foi O Campeão, com Faye Dunaway, Jon Voight e Ricky Schroder, na época um gurizinho loirinho bonitinho. As pessoas iam assistir a esse filme e voltavam contando como tinham chorado, que não havia como não chorar, que 100% da plateia chorava.

Bem. Decidi ir ao cinema para ver esse filme tão triste. Só que o seguinte: fui resolvido a não chorar. Eles saberiam como se comporta um cara do IAPI.

Pois fui, e fui preparado, com o coração rijo de pedra e o olhar sarcástico do homem que preza o intelecto acima da emoção.

Jesus Cristo, como chorei. Chorei de molhar a gola da camisa, chorei de sair do cinema vermelho e fungando, chorei como uma normalista.

Hoje, suponho que choraria ainda mais. É que agora sou pai e a paternidade me amolentou aquela antiga têmpera de aço.

O pessoal tem mania de fazer desafios. Mas são uns desafios mamão com açúcar, como diria o Guerrinha. Coisas que qualquer um faz. Vamos ver se você consegue assistir a O Campeão sem chorar. Vamos ver se você é mesmo durão.

Aliás, aí está algo que me intriga a respeito de mim mesmo. Como sou tão influenciável a certas manifestações artísticas? Música, por exemplo. Toca uma balada romântica, digamos, Pra te Lembrar, do grande Nei Lisboa, e me sinto suavemente triste, um amante abandonado que vaga sozinho pelo mundo. Agora, se rola um som meio rock, meio blues, cheio de balanço de gato vadio, tipo Waiting on a Friend, dos Stones, sabe o que acontece comigo? É uma vergonha, mas confesso: faço biquinho.

Cara, é irresistível. Esse tipo de música me dá uma compulsão de fazer biquinho. Por que, meu Deus? Por quê???

Na Olimpíada de 2012, em Londres, marquei com o Tulio Milman e o Piangers de nos encontrarmos, depois do trabalho, em um pub que havia perto do nosso hotel. Cheguei antes, pedi um pint e me encostei em um pilar perto da banda que executava umas músicas nacionais. De repente, os caras começaram:

"Watching girls passing by, it ain't the latest thing

I?m just standing in a doorway

I?m just trying to make some sense

Out of these girls passing by, the tales they tell of men".

Estava esperando pelos meus amigos e eles mandaram ver um Waiting on a Friend! Aquilo mexeu comigo, man! Quando o Piangers e o Tulio chegaram, eu me balançava, com o copo de cerveja na mão e, por mil chapéus da rainha!, fazia biquinho. Eles olharam e riram. Não comentaram nada, porque são amigos. Amigos entendem o poder que algumas músicas têm sobre seus amigos.

DAVID COIMBRA

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