sábado, 26 de janeiro de 2019


26 DE JANEIRO DE 2019
INFORME ESPECIAL

OS RECADOS DA GM

O comunicado fixado no quadro de avisos das fábricas da GM, alertando que a operação atingiu "um momento crítico que exige sacrifícios de todos", não tinha apenas os funcionários como destinatários. A mensagem assinada pelo presidente da General Motors (GM) Mercosul, Carlos Zarlenga, também era um recado para Donald Trump e Jair Bolsonaro.

Nos Estados Unidos, a montadora tem sido alvo constante de críticas. Ameaçando aumentar impostos de importação, Trump joga duro e tenta forçar as empresas automobilísticas com fábricas no Exterior a voltarem a produzir no país. O corte de 8 mil funcionários no fim do ano não ajudou a melhorar a relação com o governo. Ao anunciar agora que pode rever sua posição na América do Sul, a companhia faz um aceno discreto pela paz.

No Brasil, a montadora sinaliza que vai atrás de apoio do novo governo e incentivos fiscais para impulsionar os lucros. Representantes da montadora foram vistos circulando pelo gabinete de transição instalado no CCBB, em Brasília. Pelo desenrolar dos fatos, é fácil concluir que não conseguiram o que queriam. Em São Paulo, Zarlenga avança agora para conseguir redução de impostos.

Das cinco unidades no Brasil, a fábrica de Gravataí é considerada a mais protegida contra eventuais turbulências. É da linha de produção gaúcha que sai o modelo Onix, atualmente o carro mais vendido no país. Com 389,5 mil veículos comercializados em 2018, uma fatia de mercado que gira em torno de 15%, a montadora é líder nacional há pelo três anos.

Mas, sem dúvida, uma eventual saída do Brasil seria traumática para Gravataí. Além de gerar em torno de 6 mil empregos diretos e indiretos, a companhia é o motor da economia na região. No ano passado, 40% de todo o retorno de ICMS que a prefeitura recebeu estava diretamente ligado à produção da GM e de seus sistemistas, algo equivalente a R$ 70 milhões.

A repercussão financeira, claro, é muito maior do que esse valor. Levando em consideração o efeito dos salários na economia local e a geração de serviços na cidade, como hospedagem e alimentação, a cifra se multiplica. A estimativa da Secretaria da Fazenda de Gravataí é de que o valor gerado pela presença da GM no município tenha sido de R$ 2,5 bilhões em 2018.

Um resultado tímido se comparado a 2014, antes da crise, quando chegou a R$ 4,1 bilhões, mas, mesmo assim, indispensável. A segunda maior empresa instalada na cidade, por exemplo, não gera nem 15% desse valor. (Cadu Caldas)

TULIO MILMAN

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