sábado, 12 de janeiro de 2019



12 DE JANEIRO DE 2019
CARPINEJAR

Lápis-borracha

Lápis é lápis, borracha é borracha. Quando a borracha está na cabeça do lápis, ela não costuma funcionar. Só borra, só piora o remendo. Parece uma lixa rasgando a folha. É como se fosse mais decorativa do que prática.

Quando preciso apagar algo, uso borracha, avulsa, branca, guardo a certeza de que não fará carnaval com a minha letra.

O mesmo devemos pensar no relacionamento amoroso. Não transforme a sua esposa ou marido no único amigo, no único confidente. Não converta o seu par em lápis-borracha. Vai gerar estragos no papel.

Sem contar que, praticando o dois em um, ao se separar, perde tudo e não tem uma vivalma em seus contatos frequentes para se socorrer.

Amor é amor, amizade é amizade, cada um com a sua função.

É saudável manter um conselho de amigos antigos à parte, inclusive para preservar o distanciamento crítico e serenar as discussões com humor e leveza.

Centralizar todas as expectativas numa pessoa é anular a sua presença. Ninguém aguenta ser o foco das crises, a fonte das dúvidas. As responsabilidades de um relacionamento já são pesadas. Inventar de unificar as tarefas termina por agravar desentendimentos.

Até porque, no calor da disputa amorosa, é comum perder a lucidez e o discernimento e atalhar ofensas. Nem sempre os desabafos são entendidos, podem soar como cobranças. Dizer qualquer coisa avoadamente costuma ser enquadrado em grosseira.

Com a amizade, fala-se bobagem sem segundas intenções. No romance, as bobagens entram no território perigoso e interpretativo do ato falho.

O amigo por perto desafoga mágoas e descongestiona reclamações. É uma peneira, um filtro. O que é ruim fica no escudo dele, o que é relevante ganha impulso e assume uma maior clareza em nossa mente.

Ele é o nosso dublê nas quedas e nos tombos. Realiza ensaios das lamúrias em telefonemas e encontros e, muitas vezes, evita brigas dispensáveis e confrontos inúteis.

A esposa ou o marido estão dentro de casa defendendo o seu ponto de vista. O amigo não tem nenhum interesse evidente e vem com o seu corretivo - a verdadeira borracha - cortar o que não se quer ouvir.

Além de nos conhecer há mais tempo, tem o jeitinho certo para nos amansar e nos convencer a pedir desculpa.

CARPINEJAR

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