sábado, 26 de janeiro de 2019


26 DE JANEIRO DE 2019
PIANGERS

Seu filho não precisa de um celular

Sei que é difícil de imaginar uma família hoje em dia que não tenha cada um de seus membros olhando para uma tela pequena de telefone, mas existiu uma época em que não tínhamos essa tradição. Acredite se quiser: houve um tempo em que as crianças jogavam bola na rua e soltavam pipa (procure no Google), mas isso faz décadas. Eu mesmo, quando era pequeno, já ouvia minha mãe dizer que "antigamente que era bom, as crianças brincavam no meio da rua". O meio da rua era perigoso, mas cresci jogando bola em uma quadra na praça do bairro. Hoje em dia as crianças crescem jogando futebol no videogame.

Fui a um encontro social, dia desses, parabenizar uma amiga que está grávida. Levei fraldas de presente, como se fazia na minha época, mas a futura mamãe me disse que hoje em dia a moda é outra: suporte para tablet. Ela já tinha ganho um suporte de tablet para o carrinho e outro para o encosto do banco do carro. Fiquei chocado. A criança nem nasceu e já tem uma programação intensa planejada, Patati Patatá no carrinho, Galinha Pintadinha indo pra creche.

Fui olhar na internet e existem capas infantis para tablet. Diz o anúncio que são mais "fáceis de segurar por crianças de menos de dois anos". Navegando mais um pouco, descobri que tem até penico com tablet, pra criança fazer cocô sem desgrudar do YouTube Kids.

Em restaurantes, pobres pais dando de comer na boca de crianças grandes, que estão muito ocupadas jogando no celular. Nas piscinas, crianças com tablets à prova de água. Crianças pequenas, que não sabem nem digitar ainda, apertam o botão do microfone e falam para o celular o que querem assistir. E funciona! Entendo os pais que acham isso bonitinho, "meu filho é um gênio da tecnologia" devem pensar. Como aquelas gracinhas de vestir criança com roupa de velhinho ou fingir que o filho está dirigindo o carro. Mas são crianças e deveriam fazer coisas de criança, mas agora estão lá, viciadas no Luccas Neto e implorando por bonecas LOL.

Não sei exatamente qual será o impacto de tanta tela no futuro dos pequenos, mas sei qual é o impacto no presente: elas estão mais imediatistas. Diferente da televisão, por exemplo, no celular eles têm tudo o que querem na hora que querem. Já clicam no "PULAR ANÚNCIO" do YouTube. Já assistem a um vídeo navegando por outros vídeos, a que vão assistir em seguida. Assim, exigem que a vida real seja imediata também. Se tornam impacientes. É por isso que seu filho, às vezes, grita "SUCO!" quando está com sede. Quer o suco agora! Pra ontem! Sem "por favor" nem "obrigado", que no celular não tem essas frescuras.

Seu filho não precisa de um celular. Seu filho precisa de você. De vez em quando, com a sua companhia e tempo controlado, um vídeo ou jogo no telefone é divertido. Mas ainda não inventaram nada mais legal do que a vida offline.

PIANGERS

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