quinta-feira, 27 de agosto de 2015



27 de agosto de 2015 | N° 18275 
CARLOS GERBASE

UM MUNDO FEITO DE TELAS

Houve um tempo em que os humanos não faziam uso de telas. Na verdade, nem de janelas. Vivíamos em cavernas, com uma única entrada, de preferência bem guardada, para evitar a desagradável convivência com os tigres-dentes-de-sabre. Esse tempo durou muito tempo. Milhões de anos. 

O único mundo era aquele que estava bem perto de nós, ao alcance de nossas mãos e de nossos olhos. Não tínhamos história, nem imaginação, nem computadores. Éramos mais felizes? Não sei. Talvez para alguns, que hoje correm nos finais de semana rumo à natureza selvagem (ou seja, um lugar sem sinal de celular), voltar a este estágio da evolução seria uma grande felicidade.

Mas alguém, uns 40 mil anos atrás, provavelmente entediado por uma noite interminável e iluminado por uma fogueira malcheirosa, usou sangue e excremento de morcego para desenhar a silhueta de um cavalo na parede da caverna. E o mundo mudou. 

A primeira tela e a primeira representação do mundo significaram também o nosso primeiro afastamento da natureza, que não estava mais tão perto de nossas mãos e de nossos olhos. Estava na tela. E as telas evoluíram muito rapidamente, com uma proliferação de superfícies e tecnologias de representação, até chegarmos à fotografia, ao cinema, à televisão, ao vídeo digital e ao Facebook. E o homem viu que tudo isso era bom. Será?

“Janelas para o mundo: telas do imaginário” é o tema do 13º Seminário Internacional de Comunicação, que ocorrerá em novembro aqui em Porto Alegre. Gilles Lipovetsky (França), Paul Levinson (Estados Unidos), Liz Evans (Inglaterra), Moisés Martins (Portugal), Phillipe Joron, Patrick Tacussel, Hélène Houdayer, Denis Fleurdoge (todos da França), Fábio Fernandes (São Paulo) e Henri Gervaiseau (São Paulo) tentarão explicar como funciona um mundo em que as telas superam, com larga margem, o contato direto com a natureza, e nosso imaginário é diariamente abastecido por tecnologias que nos conectam com todos, sem tocarmos em ninguém. 

É um encontro acadêmico, mas está aberto a qualquer pessoa interessada em saber pra onde vai o mundo. Porque, como já dizia o poeta: “Pra onde vai o mundo, vai todo mundo”. As inscrições estão abertas. Onde? É claro, na tela da internet: pucrs.br/famecos/pos/seminariointernacional.