segunda-feira, 5 de dezembro de 2016



05 de dezembro de 2016 | N° 18706
ARTIGOS - CLÁUDIO BRITO*

LENIÊNCIA, UM BOM NEGÓCIO 

Acordos de leniência são grandes e bons negócios para empreiteiros que corrompem, fazem negociatas, cometem crimes e induzem servidores públicos a cometê-los também. Outras vezes, são extorquidos, levados por servidores e políticos à prática de financiamentos espúrios de campanhas eleitorais, entre outras falcatruas. 

A frouxidão e a flexibilização são mais que sinônimos, são pressupostos. Esses ajustes asseguram descobertas incríveis, em níveis impossíveis de serem alcançados pelos meios tradicionais de investigação. Ainda assim, com toda a vênia que os honestos defensores desse meio de apuração da verdade merecem, o preço pago pelos colaboradores ou delatores é muito pequeno para a justa reparação que devem à sociedade.

Anunciam revelações demolidoras de quem deveria ficar quase 20 anos na cadeia. O escambo resultará em diminuir as penas para pouco mais de dois anos e um prazo espichado de duas décadas para o pagamento de multas e ressarcimentos. Assim, a empresa não vai à falência e segue negociando com o Estado, o mesmo ente surrupiado uma vida inteira. Então, de novas licitações e novos contratos, virão os recursos para o cumprimento do acordo. 

O Estado vai pagar a si mesmo o rombo que o empreiteiro causou. E os colaboradores, antes chamados de delatores, agora são protagonistas de acordos com os lenientes, que estabelecem as transações em nome do povo brasileiro, que seguirá pagando as estradas pavimentadas, com pontes e outras obras de arte. Na areia movediça, ficarão sempre as pessoas de bem, suportando os prejuízos que a lassidão permissiva criou.

Somos nós os lenientes, os condescendentes, os tolerantes. Nos iludimos com pedidos públicos de perdão e promessas de novas condutas, criadoras de um futuro vitorioso. Há sinceridade nisso? Quem vai cobrar daqui a 20 anos? Cadeias superlotadas continuarão exclusivas da gentalha. Os poderosos donos do império estarão protegidos e até poderão virar heróis. Abrindo estradas, erguendo prédios públicos e ganhando muito dinheiro, que será suficiente para pagar as contas e lucrar muito mais em 20 anos.

*Jornalista