09 DE OUTUBRO DE 2017
OLHAR GLOBAL
A razão dos espanholistas
Passados oito dias do plebiscito de 1º de outubro, o independentismo catalão finalmente foi desafiado nas ruas de Barcelona por um adversário que não enverga uniformes da Polícia Nacional e da Guarda Civil e distribui argumentos políticos em lugar de golpes de escudo e cassetete. Foi esse o significado da manifestação organizada ontem pela Sociedade Civil Catalã (SCC) sob o lema "Recuperemos a Sanidade".
A história não é pródiga em exemplos de forças políticas que tiveram sucesso com apelos à saúde mental. O fato de essas mesmas forças esquecerem com frequência que "o próprio educador precisa ser educado" não as ajuda. Pior ainda quando escolhem chamar à razão o agredido, e não o agressor.
Ainda assim, a SCC conseguiu reunir 350 mil pessoas, segundo a Guarda Urbana (950 mil, segundo os organizadores). É uma boa marca em comparação ao Dia da Hispanidade, também comemorado pela SCC, que juntou 105 mil em 2013. Não houve incidentes, possível sinal de que a insanidade seja, afinal, um tigre de papel.
O manifesto lido ao final do ato acusa os "nacionalistas" (isto é, os separatistas) de pretender "lançar a sociedade catalã no vazio" e conclui: "Que ninguém volte a falar da Catalunha como se fosse somente dos nacionalistas". Sobre a pancadaria em 1º de outubro, a ameaça velada de Madri de suspender a autonomia regional e a recusa a qualquer diálogo, nenhuma palavra. Não é por acaso que faltam defensores do espanholismo - para não falar da sanidade, essa eterna desassistida - em Barcelona.
luiz.araujo@zerohora.com.br
