08 DE JANEIRO DE 2018
POLÍTICA +
DESTINO DE LULA INDEPENDE DO BARULHO DAS RUAS
Pode ser óbvio, mas às vezes é preciso lembrar que a mobilização dos simpatizantes do ex-presidente Lula em Porto Alegre terá influência zero no voto dos desembargadores que julgarão o recurso contra a condenação pelo juiz Sergio Moro. Enganam-se os que acham que a segunda instância da Justiça Federal decide com base no clamor popular (que existe tanto pela condenação quanto pela absolvição) ou nas pesquisas que mostram Lula à frente na disputa pela Presidência da República.
As manifestações contra e a favor de Lula são legítimas. Pode-se questionar a sentença de Moro e criticar o que decidirem os desembargadores, mas não se pode aceitar a intimidação de juízes.
Quem disser que sabe o placar está exercendo o consagrado direito ao chute, com 50% de chances de acertar se disser que será 3x0 ou 2x1. Com três votos em jogo, não há outro placar possível pela condenação ou pela absolvição. Quem disser que tem uma fonte privilegiada no TRF4 e que sabe o resultado por antecipação, como dizem alguns notórios atochadores de redes sociais, está mentindo. Pode-se falar em tendência, com base em votos anteriores, mas não em certeza.
O relator, desembargador João Pedro Gebran Neto, 52 anos, concluiu seu voto ainda em 2017, com base nos autos e não no número de pessoas que os movimentos sociais colocarão nas ruas da Capital, nem no que pode ter lido nas redes sociais. Do conteúdo, nada vazou. Entrevistas, nunca deu. Os outros dois desembargadores, Leandro Paulsen e Victor Laus, também não deram pistas de como votarão.
Quem elogiou a sentença do juiz Sergio Moro e defendeu o julgamento célere do recurso de Lula, para não levar a incerteza para a eleição, foi o presidente do TRF4, desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz. Que não vota.
Desde sexta-feira, líderes petistas estão usando as redes sociais para colocar o julgamento sob suspeita, usando uma publicação da chefe de gabinete da Presidência do TRF4, Daniela Tagliari Kreling Lau, feita no Facebook às 17h55min do dia 3 de janeiro. Na postagem, com a foto do ex-presidente, Daniela escreveu em letras garrafais: "Lula - O Brasil inteiro exige sua prisão". Diante da repercussão negativa, o post foi apagado no fim de semana, mas alimentou os debates nas redes sociais.
Por meio de sua assessoria, Thompson Flores disse que "a servidora estava exercendo o direito de se manifestar, como cidadã, em caráter particular". Lembrou que "o gabinete da Presidência não julga processo de Lula". O TRF4 informou que Daniela é concursada e tem 24 anos de carreira. É graduada em Administração, não tem formação jurídica e não atua em nenhum processo.
A manifestação da chefe de gabinete, usando o martelo virtual de juíza de Facebook, é um ingrediente a mais no caldeirão que ferve em Porto Alegre, mas não tem o peso que os petistas querem dar. Faltou à servidora um mínimo de noção do peso do cargo que ocupa, mas sua opinião não afeta o julgamento.
ROSANE DE OLIVEIRA