sexta-feira, 3 de agosto de 2018


A democracia incansável 


Democracia começou lá pela Grécia, no século V antes de Cristo, e nestes 2,5 mil anos foi circulando pelo mundo, com modificações e adaptações variadas. Aqui e ali, em determinados períodos, deu lugar a ditaduras, tiranias, aristocracias e outras situações nas quais as liberdades e os direitos de cidadania ficaram para trás. 

No século XIX, na América e no Sul da Europa, grandes ondas democráticas ocorreram. Há quem diga que a democracia cansou, que pode terminar ou coisa assim, como o professor de política inglês David Runcin, de Cambridge, em seu último livro How Democracy Ends, que está dando o que falar. O autor alerta para narcisismos de ditadores de direita, esquerda e centro, que podem melar a democracia. 

O professor mostra os problemas da democracia representativa e os gritos fascistas que ainda persistem num mundo que evoluiu em liberdades democráticas e que está profundamente influenciado pela comunicação digital e por outras características da globalização. Óbvio que o tema é milenar, polêmico, infinito e que a democracia deve durar ainda uns milênios, em formas e aplicações novas. 

Precisamos pensar em ideias e planos democráticos nessas próximas eleições brasileiras. Democracia não é fácil, nunca foi, mas seus ideais históricos de liberdade, igualdade, fraternidade, representatividade devem permanecer, mesmo depois das enormes e rápidas mudanças impostas pelas modificações sociais, políticas, econômicas e históricas. A democracia é o regime menos pior, como já foi dito. É o que temos para hoje. 

De extremismos de direita, esquerda e até de centro, de exageros, fundamentalismos, individualismos e salvadores da pátria ou de times de futebol de plantão não necessitamos e já vimos algumas vezes o tenebroso filme, que não tem o menor "happy end" e a mínima graça. Quem sabe os candidatos apresentem planos mais claros, possíveis, ideias para tentar juntar nossos cacos federais e fazer deste País uma nação? 

Quem sabe a imprensa seja mais plural, isenta e democrática e até auxilie a propor questões e mesmo soluções que interessem mais ao coletivo do que a interesses específicos? Quem sabe as redes sociais sejam utilizadas para destilar menos ódios, rancores e extremismos e para tentar algum diálogo produtivo? Óbvio que isso tudo é difícil, que estamos descrentes, mas que remédio temos senão acreditar que os ares democráticos vão prevalecer em vez destes céus carregados de presságios terríveis? 

A história da democracia no planeta mostra que seus ideais ainda são os mais saudáveis e melhores para todos. Observe-se a social-democracia dos países nórdicos, a democracia parlamentar da Austrália, do Japão, da Nova Zelândia e do Canadá, por exemplo, além da democracia em países europeus, e aí vemos onde é que o convívio humano está melhor. Nada é perfeito, claro, mas é preciso avaliar onde estão as melhores experiências e aí pensar em futuros para nosso Brasil. 


a propósito... 

As eleições, a rigor, ainda não começaram, ao menos de todo. Estamos meio perdidos, mais da metade indecisa ou sem querer votar. Desejo que o maior número vote. 

Nas últimas duas eleições, mais ou menos um terço dos eleitores não foi votar, anulou ou votou em branco, e deu no que deu. É difícil a escolha, mas tomara que pintem novidades, informações, planos e pessoas minimamente democráticas, honestas e preocupadas com o bem público. 

Tomara que haja uma baita renovação no Congresso Nacional, que no fundo é o dono da bola e apita o jogo. Tomara que Nossa Senhora Aparecida coloque sob seu manto os que são do bem. Acredite, ainda existem. Tomara que a gente não se canse da democracia e que ela não nos abandone. Nossa democracia ainda precisa amadurecer. - 

Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/colunas/livros/2018/08/641429-mandela-os-anos-de-presidencia.html)