sábado, 9 de fevereiro de 2019



09 DE FEVEREIRO DE 2019
CARPINEJAR

A delícia de voltar de férias

Todas as férias são duas férias para mim. Sair de casa e se adaptar a um hotel e depois voltar para casa e reconhecer o luxo do meu cantinho.

Ir e regressar são duas alegrias. Não sei o que é melhor: a aventura do desconhecido ou o retorno cheio de nostalgia.

É um comichão infantil pisar de novo no lar após um mês fora. A impressão é de que comprei um apartamento.

Quando volto para a rotina, elogio a decoração que eu mesmo fiz. Eu me pego reverenciando o que sempre tive: soprando o pó de objetos de decoração, aguando plantinhas, passeando pelos quadros dos corredores como se fosse um museu.

Eu me encho de esperança. A distância refaz a luminosidade do apego. Mexo nas gavetas e derrubo os cabides, vem a vontade de usar roupas que faz meses que não ponho, de perfumar os ambientes, de comprar sabonetes de melancia.

Da mesma forma em que há uma gincana para realizar tudo de uma vez nas férias, tudo num único dia e emenda-se praia, piscina, bar, restaurante, passeio de barco e trilha, eu quero esgotar as possibilidades caseiras na minha repatriação.

É o equivalente a receber a chave de um shopping para levar o que desejar. Com a diferença de que não gastarei um pila. Compro com os olhos o que já é meu.

Preciso matar a saudade da minha cama. E durmo como se estivesse no berço. O travesseiro vai me acariciando e não me permite levantar. O dia é noite com o blecaute e perco a noção da hora. Ligo o ar no mínimo do mínimo e me cubro de uma avalanche de edredons. Invento um inverno no verão, deliciosamente.

Preciso matar a saudade do meu escritório. E escrevo como se não houvesse almoço.

Preciso matar a saudade da minha varanda. E tomo chimarrão até a bexiga pedir licença.

Preciso matar a saudade de ler jornais no sofá. E só deixo os cadernos de lado quando os dedos estiverem preteados.

Preciso matar a saudade da televisão grande. E emendo séries e filmes como um viciado.

Abraço a geladeira, cansado de me agachar a um frigobar. Não existe mais o que temer, posso consumir à vontade os produtos da prateleira sem me preocupar com a fatura no check-out.

Todas as férias são duas férias para mim. Não sou capaz de concluir qual contentamento é mais insaciável: passear lá fora ou passear aqui dentro.

CARPINEJAR

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