sábado, 16 de fevereiro de 2019



16 DE FEVEREIRO DE 2019
PIANGERS

Palavrão

De maluco eu só tenho a cara, e minha esposa, nem isso. Portanto, há dias em que nos considero o casal mais desinteressante do mundo, realizando o mesmo trajeto de segunda a sexta, de casa para a escola, no máximo passando no supermercado para comprar pão. (Abre parênteses, emoção grande mesmo foi a promoção que dava facas do Jamie Oliver para cada R$ 200 gastos.) Somos caretas. Não usamos drogas, não temos perversões sexuais (que eu saiba) e, finalmente, chegamos ao objetivo deste texto, não falamos palavrão.

Não foi sempre assim, obviamente. No começo do nosso relacionamento, falávamos o tempo todo. Os mais triviais eram "merda" e "porra". A Ana por vezes juntava os dois: "Porra, Marcos! Que merda!", quando a louça estava suja há dias ou as roupas brancas e coloridas eram acidentalmente colocadas juntas na máquina de lavar. Quando algo muito desagradável nos acontecia, "Puta que pariu". Mas o meu favorito sempre foi "caralho". É uma expressão bastante abrangente. Se eu batia o dedo mindinho na cadeira: "Caralho!". Se avistava um acidente de trânsito: "Caralho!". Se meu time fazia um golaço: "Caralhooooo!". Gosto da versatilidade.

Contudo, as meninas foram crescendo e começamos a evitar. Precisamos dar o exemplo. Não é bonito uma criança falando palavrão, portanto passamos a usar substitutos tolos. Algo muito desagradável acontece, e soltamos um : "Pu..tz grila". Vemos um acidente de carro e gritamos "Cara... coles". E, se coloco as roupas coloridas junto com as roupas brancas na máquina de lavar, minha esposa agora grita: "Po... xa vida, Marcos!". Me sinto bem menos agredido, quase autorizado a repetir os mesmo erros.

Por vezes, sinto falta de algo mais contundente. Estávamos provando um delicioso sorvete esses dias, um sorvete realmente delicioso, e a minha vontade era dizer: "Puta que o pariu!", mas disse apenas "Huuummm", segurando tudo o que eu queria realmente dizer com uma careta que contraía todos os músculos do meu rosto. 

Noite dessas, bati o jogo com uma canastra real limpa e desejava gritar: "Eu sou foda pra caralho!", mas disse apenas "Yes!", como um patético chefe de família americano. E esses dias, quando um vendedor de carros ofereceu pagar pelo meu carro R$ 10 mil a menos do que a tabela Fipe, gritei: "Meu cu!". E, olhando ao redor minha família horrorizada, completei: "Meu cu...nhado disse que consigo um preço melhor. Vou continuar procurando. Muito obrigado".

PIANGERS

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