quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019



13 DE FEVEREIRO DE 2019
ECONOMIA


ÀS PORTAS DA PRIVATIZAÇÃO, ESTATAIS VALORIZADAS


AÇÕES DE COMPANHIAS controladas pelo governo tiveram alta de 47,8% desde setembro, com impulso da disputa eleitoral

Do início de setembro de 2018 ao final de janeiro deste ano, as principais estatais listadas na B3, a bolsa de valores de São Paulo, ganharam R$ 241,49 bilhões em valor de mercado. A valorização média das 12 companhias controladas pelo poder público que integram o IBrX-100, índice que reúne as cem empresas que mais têm ações negociadas nos pregões, chegou a 47,9% no período. No mesmo intervalo, a alta geral do índice foi de 27,8%.

Por trás do movimento, iniciado quando a campanha eleitoral à Presidência da República e aos governos estaduais começava a ganhar corpo, está a expectativa por privatizações e vendas de ativos, avaliam analistas do mercado financeiro. Casos, por exemplo, de Petrobras e Eletrobras, que devem ter subsidiárias vendidas, da mineira de energia Cemig, passível de privatização, assim com a Sabesp, companhia de saneamento de São Paulo.

Maior empresa do grupo, a petroleira valia R$ 272,22 bilhões ao final de agosto. Cinco meses depois, R$ 363,22 bilhões, ganho de 33,4%. Pertencente à Petrobras, a BR Distribuidora é um dos negócios que pode ser repassado para iniciativa privada. Percentualmente, o maior salto foi da Eletrobras. Chegou a R$ 51,46 bilhões, alta de 133,8%.

- O principal motivo é a expectativa de privatizações e venda de ativos, mas também mudança na gestão, com cenário de menor interferência política. No caso da Petrobras, a intenção é focar no segmento de produção e exploração de petróleo, e isso ajuda na desalavancagem (diminuição do endividamento) da empresa - detalha Sabrina Cassiano, analista da Coinvalores, ressaltando que, mesmo nos casos em que as principais empresas não serão vendidas, a indicação de nomes técnicos, com gestão mais pró- mercado, significa mais chances de eficiência e rentabilidade.

No ramo financeiro, o Banco do Brasil pode se desfazer da BB Seguridade, terceira estatal mais valiosa da bolsa.

ESTADOS TAMBÉM AVALIAM VENDA DE PATRIMÔNIO

A mineira Cemig, por sua vez, também é dona da Light, distribuidora de energia do Rio de Janeiro, negócio do qual pretende se desfazer. Com a crise no setor de mineração após o o desastre de Brumadinho (MG), o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, tende a ver a situação financeira do Estado piorar. Com isso, também crescem as apostas de que a estatal de saneamento Copasa possa ser vendida.

Em São Paulo, o governador João Doria cogita a capitalização da Sabesp como alternativa, mas o mercado coloca as fichas na privatização. No período, a empresa viu seu valor saltar 77,9%.

No Paraná, o governo, por enquanto, descarta se desfazer da Copel, de energia, e da Sanepar, de saneamento, mas também repete a possibilidade de vender "ativos não estratégicos".

O analista-chefe da Geral Investimentos, Carlos Müller, lembra que, em empresas do mesmo setor, as privadas costumam ser mais valorizadas em comparação às estatais devido ao risco político da gestão. Muitas acumularam endividamento alto nos últimos anos, como a Petrobras. Administradores técnicos no comando, orientação mais liberal dos governos e o poder público com finanças em situação delicada integram a fórmula percebida pelo mercado como grande chance de aumento de valor.

No caso do Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite segue negando a possibilidade de privatizar o Banrisul, mas nestes cinco meses analisados o banco se valorizou 43,1%. Mesmo assim, há investidores que seguem apostando na venda da instituição, avalia o analista.

- No Banrisul também há a questão da Banrisul Cartões (subsidiária que pode abrir o capital), um ativo visto pelo mercado como de bom valor. A soma dessas duas partes, separadas, será maior do que o valor que tem hoje em uma empresa só - explica Müller.

CAIO CIGANA

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