quinta-feira, 2 de maio de 2024


02 DE MAIO DE 2024
TRAGÉDIA NO RS

Sob maior potencial de estragos

Localização e persistência das chuvas na faixa central do Rio Grande do Sul amplificam a destruição de pontes e estradas

Uma peculiaridade da chuva torrencial registrada nos últimos dias no Rio Grande do Sul agrava a preocupação de autoridades e da população: o elevado potencial de destruição e de bloqueio de estradas e pontes, o que levou ao isolamento de comunidades inteiras e dificulta a circulação entre algumas das principais cidades, como Santa Maria.

O estrago foi mais intenso e generalizado do que o testemunhado na grande enchente de setembro do ano passado, por exemplo, que assolou o Vale do Taquari e deixou mais de meia centena de vítimas. O alto grau de dano material visto agora se explica principalmente pela localização do epicentro das precipitações e pela característica "quase estacionária" do sistema meteorológico que atinge o Estado e supera a resistência das obras de engenharia. Há o risco de que os prejuízos se intensifiquem devido à continuidade do mau tempo hoje.

Em setembro, as chuvas mais fortes se concentraram nas cabeceiras dos rios das Antas e Taquari, no Extremo Norte. A enxurrada desceu o vale inundando cidades inteiras ao longo do caminho, mas foi mais localizada. Agora, conforme o doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental Fernando Dornelles, o mau tempo se abate sobre ampla faixa central do Estado, onde há tanto uma grande concentração de córregos e rios, como o Jacuí, o Pardo e o Caí, quanto vasta malha de vias municipais, estaduais e federais e farta infraestrutura de pontes por se tratar de zona mais urbanizada.

- Tivemos grandes volumes de chuva em pouco tempo nessa região mais média do Rio Taquari e nas sub-bacias do Forqueta, do Guaporé, também do Jacuí. Isso fez com que bueiros e pontilhões fossem levados por causa da erosão provocada pela água nas suas bases. O número de estruturas danificadas foi maior porque se trata de uma região mais densamente ocupada - avalia Dornelles, que também é professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Santa Maria foi um dos municípios mais atingidos: a chuva comprometeu pelo menos 11 pontes e provocou danos em acessos fundamentais como a RS-287, a BR-158 e a BR-392. Além disso, problemas em adutoras chegaram a deixar 70% da cidade sem abastecimento de água. Outras localidades como Candelária e Caxias do Sul também apresentaram transtornos significativos de infraestrutura relacionados ao mau tempo, incluindo quedas de barreiras e deslizamentos.

Sucessão

Além de ter desaguado sobre uma zona mais sensível, a sucessão de tempestades trouxe volumes de chuva em níveis raramente vistos. Muitos locais registraram graus de precipitação três vezes superiores à média prevista para todo o mês de abril - em Segredo, no Vale do Rio Pardo, a medição indicou o acúmulo de 321 milímetros em apenas 24 horas, por exemplo.

O engenheiro ambiental e também professor do IPH da UFRGS Fernando Fan teme que os mais recentes prognósticos confirmem agravamento maior da situação.

- Com a continuação da chuva no sentido da bacia do Rio Taquari, os modelos estão sugerindo a ocorrência de cheias ali da ordem do que ocorreu ano passado. Confirmadas as previsões, creio que estaríamos diante do maior desastre dos últimos anos - alerta Fan.

MARCELO GONZATTO

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