sexta-feira, 3 de maio de 2024



03 DE MAIO DE 2024
TRAGÉDIA NO RS

"Imploro por um helicóptero, pois tenho 11 famílias isoladas"

Terceira maior economia do Vale do Taquari, Arroio do Meio está embaixo d'água. Apenas duas quadras do centro ainda não foram tragadas pela correnteza do Rio Taquari. Com 22 mil habitantes, a cidade está isolada após a queda de cinco pontes e da interrupção de estradas, sendo impossível acessar Encantado, de um lado, e Lajeado, de outro.

- Não temos luz, vai começar a faltar água e comida - afirma o prefeito Danilo Bruxel.

Na noite de quarta-feira, Bruxel coordenou a retirada das famílias das áreas de risco. Por volta das 20h30min, foi para casa, no bairro Barra do Forqueta, a cerca de dois quilômetros do centro. Na manhã de ontem, não conseguiu acessar a cidade.

- Estou administrando pelo telefone. Já fizemos alguns resgates de barco, mas agora imploro por um helicóptero pois tenho 11 famílias isoladas onde não temos como chegar - diz Bruxel.

Cercado por ao menos quatro cursos d'água, Arroio do Meio viu o Rio Taquari subir dois metros acima do recorde anterior, em setembro, alcançando 38 metros. Cerca de 15 pessoas que passaram a noite ilhadas na praça central foram levadas para a Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e para a Casa de Cultura, depois que dois abrigos usados para acolher desalojados das enchentes do ano passado também ficaram alagados.

Residencial

Os abrigos foram esvaziados há duas semanas, quando 28 casas temporárias foram entregues no município. Famílias que estavam há oito meses morando de forma improvisada em uma creche e uma escola receberam residências de 21 metros quadrados cada. O residencial foi erguido em uma região elevada do bairro Novo Horizonte, a cinco quilômetros do centro.

- Passamos a noite com medo, mas aqui a água não chegou - suspira o operário Marcelo Rodrigues dos Santos, contemplado com um dos imóveis.

Muçum revive pesadelo da enchente

Cidade arrasada pelas cheias de setembro e novembro de 2023 contabiliza na semana 30 deslizamentos e 748mm de chuva

Epicentro das enchentes que devastaram o Vale do Taquari em setembro e em novembro de 2023, Muçum reviveu ontem o pesadelo de ver as ruas da cidade tomadas por uma correnteza lamacenta. Com 748mm de chuva registrados desde segunda-feira, segundo dados da prefeitura, o Rio Taquari alcançou 25m88cm, destruindo 80% da zona urbana e provocando deslizamentos em cadeia no entorno do município.

Isolados após a queda de pontes e bloqueio de rodovias, os 4,6 mil habitantes não têm como deixar a região nem receber socorro.

- Estamos com o gabinete de crise montado no hospital da cidade, que é o lugar mais alto, mas estamos encurralados - desabafa o prefeito Mateus Trojan.

Até o final da manhã, a prefeitura contabilizava 220 desabrigados acolhidos em espaços públicos e milhares de pessoas refugiadas nas casas de parentes ou amigos. A zona rural permanece isolada e sem comunicação. Não há energia elétrica nem sinal de celular na região.

Em comparação com as enchentes anteriores, choveu mais, mas em um espaço maior de tempo, sem repetir a violência mortífera. Até ontem, não havia registros de óbitos. Espremida entre o Rio Taquari e os morros que delimitam o lado oeste da Serra, Muçum registrou mais de 30 deslizamentos na semana, conforme levantamento da Defesa Civil e da Secretaria Municipal de Obras.

Desânimo

Tentando gerenciar o caos a partir de uma sala acanhada do Hospital Nossa Senhora Aparecida, único lugar com energia graças a um gerador, o prefeito resume o sentimento geral dos moradores de Muçum.

- Vamos precisar de comida, água, maquinário, gente. Precisamos de tudo, absolutamente tudo. Estávamos num momento de virada de chave, com o comércio se reerguendo, os espaços públicos sendo reconstruídos. Agora, tudo foi destruído de novo. Não consigo imaginar como recuperar a autoestima, o pertencimento, se nós mesmos não conseguimos nos motivar diante de mais um desastre natural - lamenta Trojan.

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