sábado, 4 de maio de 2024


04 DE MAIO DE 2024
INFORME ESPECIAL

O dia em que o centro da Capital parou

"Saiam! Não fiquem na área!", gritava o policial ao megafone, de dentro da viatura da Brigada Militar. Quando ouvi a ordem, às 12h13min de ontem, diante do Mercado Público de Porto Alegre, senti um nó na garganta. Jamais pensei que veria o centro da maior cidade gaúcha ser evacuado devido às consequências de uma tragédia climática.

Por dever de ofício, fui até a região conferir com meus próprios olhos a situação do Guaíba, que subia sem parar. Cheguei à área central em um carro de aplicativo. Desci perto do viaduto da Avenida Borges de Medeiros e segui caminhando rumo à parte baixa do Centro Histórico.

No trajeto, vi cenas que lembravam filmes sobre o fim do mundo: lojistas trancando as portas às pressas, pedestres andando a passos rápidos com semblantes fechados, mendigos observando a correria incomum com o olhar de quem não tem para onde ir.

Já morei no Centro e sou frequentadora da região. Em 28 anos de vida porto-alegrense, nunca tinha visto nada parecido.

No entorno do Mercado, fechado e vazio, ratazanas e baratas corriam pelas calçadas como se procurassem abrigo. Olhei em direção à Avenida Júlio de Castilhos, paralela à Mauá (onde fica o muro) e vi a água parda sobre o asfalto. O rio-lago já havia ultrapassado a barreira e estava ali, a 30, 40 passos do Mercado. E subindo.

Curiosos aproximavam-se, olhando estupefatos a rua sem carros e sem barulho. Dava para andar no meio da avenida. As pessoas pareciam não acreditar no que viam, com os celulares em punho, fazendo fotos e vídeos sem parar. Também captei imagens e postei no Instagram. As fotografias que você vê ao lado são minhas.

Foi nesse momento que passou a viatura. "Saiam! Saiam! Saiam!" A essa altura, uma das comportas de contenção do Guaíba, na Avenida Sertório, já havia se rompido. O risco era enorme. Vi, mais uma vez, ratos saindo dos bueiros e, instintivamente, procurando lugar seguro. Saí de lá sem olhar para trás.

É absurdamente grave o que está acontecendo no RS. Buscamos dar os alertas, mas fomos tendo a compreensão do tamanho do que estava acontecendo no curso (da tempestade).

Eduardo Leite

Governador do RS, em um dos momentos mais graves da crise climática no Estado.

Não temos mais supermercados, agências bancárias. A impotência é total.

Sandra Backes

Prefeita de Sinimbu, um dos municípios mais atingidos pela chuva no Vale do Rio Pardo.

Não tínhamos enfrentado nada igual.

Jorge Pozzobom

Prefeito de Santa Maria, município que registrou um dos maiores volumes de chuva do mundo na última quarta-feira.

Quero muito que o pessoal junte bastante dinheiro, quem tiver condições. Por favor, levem esta mensagem. Cidades estão sendo arrastadas.

Matteus Amaral

Ex-BBB, pedindo apoio à crise climática no RS.

Não faltarão recursos para reconstruir o que foi destruído pela chuva.

Luiz Inácio Lula da Silva

Presidente da República prometeu apoio ao Rio Grande do Sul para reconstruir tudo o que foi afetado pela chuva.

Quero transmitir às meninas e aos meninos que a vida é bela, mas se desgasta e cai. A questão é recomeçar cada vez que se cai e, se houver raiva, transformá-la em esperança.

José Mujica

Ex-presidente do Uruguai, ao anunciar que sofre de câncer de esôfago.

Estamos encurralados. Não tem como sair por cima, por causa dos deslizamentos, nem por baixo, porque o rio alagou tudo.

Mateus Trojan

Prefeito de Muçum, cidade do Vale do Taquari que voltou a ficar submersa.

arte

O sol há de brilhar outra vez

Van Gogh foi um especialista, entre outras coisas, em pintar a luz do sol, em todo o seu esplendor, usando pinceladas vivazes, com cores vibrantes e expressivas. A tela ao lado, que pertence ao acervo do Museu Kröller-Müller, em Otterlo, na Holanda, é um exemplo disso.

O título da obra não é o que destaquei, mas é a mensagem que quero deixar, depois de tantos dias tristes, escuros e molhados no Rio Grande do Sul. A tela chama-se O Semeador, foi concluída em 1888 e mostra o sol como fonte de luz, energia e vida.

INFORME ESPECIAL

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