sexta-feira, 3 de maio de 2024



03 DE MAIO DE 2024
NFORME ESPECIAL

Com o coração na lente da câmera

Jornalistas que atuam em veículos de comunicação estão acostumados, por dever de ofício, a lidar com situações extremas. É o caso de Jeff Botega, que você vê na imagem acima, captada pelo repórter Lucas Abati, em Encantado, no Vale do Taquari.

Fotojornalista multipremiado, Jeff já cobriu muitas tragédias e viu de tudo em 28 anos de Grupo RBS. Ontem, ele chorou.

Com a câmera nas mãos, Jeff embarcou no helicóptero comandado pelo tenente-coronel Ingo Lüdke, do Corpo de Bombeiros Militar do RS. De dentro da cabine, testemunhou o esforço da equipe para salvar famílias ilhadas em Lajeado.

Ao contar a história na Rádio Gaúcha, ele não se conteve. A voz embargou. Chamei meu amigo no Whats para conversar.

- Foi uma das pautas mais tristes que já fiz - contou ele.

Jeff viu mãe e filhas no telhado de casa, pedindo ajuda, e percebeu a aflição do comandante, tentando ajudar, apesar das más condições de voo. O drama teve final feliz, mas a verdade é que ninguém - ninguém mesmo - sai ileso de uma catástrofe.

Mais do que apoio emergencial

Com cidades submersas, perdas irreparáveis e mais de 150 trechos viários bloqueados nos últimos dias, o Rio Grande do Sul vai precisar mais do que socorro emergencial da União. O compromisso assumido ontem, em Santa Maria, pelo presidente Lula - de que não faltará dinheiro para a reconstrução - foi um alento.

A dúvida é: será na velocidade necessária?

O que vimos depois da tragédia no Vale do Taquari, em 2023, não foi exatamente isso. A burocracia estatal (na origem, uma forma de proteção ao erário, para evitar desvios de recursos públicos) travou o que deveria ser urgente.

Agora, vivemos tudo outra vez, só que em escala ainda maior e sem trégua.

O governador Eduardo Leite não exagerou quando definiu a atual catástrofe climática como a pior da história do Estado (até aqui, se nada for feito).

Alvo de críticas de adversários políticos, Leite pode (e deve) ser cobrado por suas ações, mas agiu certo ao usar todos os meios possíveis (inclusive as redes sociais) para chamar a atenção de Lula. Ainda que o presidente jamais tenha se negado a atendê-lo, a situação pedia isso. Foi, também, uma forma de alertar o Brasil sobre o que enfrentamos no extremo sul de um país continental.

Não foi um evento climático qualquer. Estradas sumiram do mapa, pontes foram arrastadas, municípios ficaram isolados, pessoas morreram. A prioridade é resgatar vidas, mas o pesadelo, infelizmente, não vai terminar tão cedo, e o governador sabe disso.

JULIANA BUBLITZ

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