sábado, 4 de maio de 2024


04 DE MAIO DE 2024
FLÁVIO TAVARES

SOMOS TODOS CULPADOS?

Dois episódios da Bíblia - o Dilúvio e o Apocalipse - parecem reunir-se com as enchentes de agora. É como se as portas do céu se abrissem e as chuvas despencassem das nuvens sem piedade. Daí pergunto: na seca de meses atrás, as chuvas se esconderam nas nuvens?

Ou as secas também são obra das nuvens, que, arrependidas, se desculpam após nos castigar e, assim, fazem chover como no Dilúvio?

Essas indagações, mesmo sem sentido, levam à conclusão da ciência: os fenômenos ou mudanças na natureza são obra nossa.

Basta acompanhar os relatos deste jornal e da RBS TV para avaliar os estragos provocados pela chuvarada. Na zona de mineração em Arroio dos Ratos, os diques (construídos para explorar carvão) retiveram a água inundando a cidade. Na enchente anterior, moradores acionaram o Ministério Público, mas o alerta não venceu a lentidão burocrática e o horror cresceu agora.

A crise do clima, alternando secas e enchentes, exige ações preventivas. Os governantes, porém, limitam-se a gestos formais, como fez o governador ao decretar agora "estado de calamidade pública". Nada foi feito de antemão para, pelo menos, atenuar a catástrofe.

É absurdo resolver as calamidades por decreto. Ou crer que as chuvas matam e destroem por serem "assassinas" e "más".

As calamidades são obra do ser humano e dos governantes. As mudanças climáticas, desenvolvidas por séculos, se agravaram, chegando à crise atual. O grande vilão são os combustíveis fósseis, como petróleo e carvão mineral.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, referiu-se ao carvão e advertiu: "Basta de financiar a morte".

Tampouco basta que o presidente da República venha ao Estado e sobrevoe as zonas afetadas ou nelas permaneça algumas horas. Faltam planos e projetos para enfrentar a crise climática. No Estado, permanece a ameaça de abrir uma mina de carvão a 12 quilômetros da Capital, às margens de um rio que chega ao Guaíba, que, assim, se transformará em cloaca mineral.

Nada se faz de concreto para evitar esse Apocalipse.

FLÁVIO TAVARES

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