sábado, 22 de junho de 2024

13/06/2024 - 11h23min

J. J. CAMARGO

Fazer coro com quem clasificou a velhice como “a melhor idade” é brincadeira de mau gosto.

"A despeito de todo progresso da medicina, ainda não há cura para um simples aniversário."  (Senador John Glenn, EUA)

Apesar do empenho que fazemos pela longevidade, ela é completamente imprevisível. E contrapondo-se à recomendação de vivermos disciplinadamente, o que significará muitas privações, envelhecer não é uma boa ideia. Só é festejada porque a alternativa, com tudo o que tem de definitivo, consegue ser pior. Muito pior.

Mas sentir-se velho e fazer coro com quem classificou a velhice como "a melhor idade" é no mínimo uma brincadeira de mau gosto. Se anunciada com insistência, já autorizaria submeter o sujeito à realização de exames específicos para avaliar a extensão do problema (mas não há o que temer, são procedimentos de imagem, indolores, tendo como único inconveniente o ruído da máquina, tratado preventivamente com protetores de ouvido).

Claro que essa recomendação não serve se você for médico, porque significaria estar à cata de uma dupla flagelação: eventualmente descobrir uma doença degenerativa, que com sorte pode ser lenta, mas será sempre progressiva, e tornar pública sua ignorância de que, se a ressonância mostrar umas tais manchas amarelas, não há objetivamente nada para oferecer, nem ao menos para desacelerar o processo.

No reencontro de dois velhos, especialmente depois de um tempo afastados, há uma disputa acirrada quando, no limite do ridículo, cada um tenta mostrar um desempenho físico/mental extraordinário, fingindo-se de modesto felizardo.

Na profilaxia da depressão diante da evidente decrepitude, recomenda-se fortemente a negação, que ao longo de toda a vida é considerada uma saída honrosa para a maioria dos nossos fiascos e desencantos, e deve ser escudada como uma valiosa reserva técnica na preservação da autoestima, ou o que sobrou dela.

No reencontro de dois velhos, especialmente depois de um tempo afastados, há uma disputa acirrada quando, no limite do ridículo, cada um tenta mostrar um desempenho físico/mental extraordinário, fingindo-se de modesto felizardo. Nesta condição, em reunião social, alguns conselhos são preciosos na prevenção de danos emocionais ou apelidos jocosos:

1) Não sente em sofás macios. Preserve em segredo quantos embalos você precisa para ficar em pé.

2) Na conversa em grupo, não force aparentar um super liberal na subversão dos costumes. Lembre-se que pode haver no grupo conhecidos antigos, que comentarão que você está muito mudado, o que na velhice é péssimo.

3) Não tente parecer espirituoso sem se assegurar de que lembra o final da piada.

4) Não se queixe do passado perdido, quando não houver mais tempo de mudar nada.

5) Se uma mulher jovem passar por perto, olhe noutra direção e evite qualquer comentário sobre a beleza, ou melhor, evite qualquer comentário. Lembre-se que o silêncio é um desvão estreito, onde a dignidade se esconde.

6) Evite falar de sexo, porque a sua plateia de veteranos estará dividida entre os que vão te achar inconveniente e os que te acharão mentiroso.

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