sexta-feira, 21 de junho de 2024


21 DE JUNHO DE 2024
DANIEL SCOLA

Desperdício de dinheiro público

Até o início dos anos 2000, existiu na Assembleia Legislativa um privilégio chamado verba de subvenção social. Pouca gente prestava atenção, mas essa verba era dinheiro público que os deputados davam a estudantes. Por que parlamentares têm direito a tal benefício se, claramente, não é função do deputado financiar bolsa de estudo? Isso despertou a minha curiosidade e a do meu colega repórter Giovani Grizotti.

Nós dois cruzamos a lista de beneficiados e a lista dos funcionários de gabinetes e ficamos boquiabertos. Descobrimos que o dinheiro (R$ 25 mil por ano) era dado a assessores ou a seus familiares. A revelação se tornou um escândalo, e os deputados estaduais resolveram acabar com a verba. 

Houve até um evento para decretar o fim da verba. Numa cerimônia com pompa e circunstância, o Grizotti perguntou a um deputado se ele apresentaria as notas de viagem já que elas eram custeadas com dinheiro público. A esdrúxula resposta do parlamentar: "Não posso! Imagina se eu mostro, por exemplo, que fui à cidade tal, que fica ao lado da minha cidade? Os meus eleitores vão ficar brabos comigo!".

Uns anos depois, antes do advento do Portal Transparência, telefonei para a assessoria do então presidente do Tribunal de Justiça para saber se ele podia informar o valor das diárias dos membros do Judiciário. Meia hora depois, a assessora me ligou dizendo que o desembargador queria saber, primeiro, qual o valor da diária que a RBS me pagava. 

Expliquei a ela que a RBS é uma empresa privada e o Tribunal de Justiça é público, daí o meu interesse em saber o valor. Por via das dúvidas, disse a ela que a minha diária era de R$ 35. Mesmo assim, o presidente do TJ não me disse o valor. É a pior resposta possível. Bastou uma ligação telefônica para um membro do Judiciário que eu conhecia para descobrir o valor e fazer a reportagem. Ela foi divulgada no dia seguinte e os ouvintes e leitores ficaram sabendo como o nosso dinheiro é gasto.

Em 2016, durante o processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, fui a Brasília para fazer a transmissão para a RBS. Entre outras coisas, me chamou atenção um elevador com ascensorista que parava em apenas três andares.

Essa cena veio à minha mente quando li que o ministro Dias Toffoli do STF viajou a Londres para ver o jogo da Champions com segurança. Gasto: R$ 39 mil. Dinheiro público, claro.

DANIEL SCOLA

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