sexta-feira, 14 de junho de 2024



14 DE JUNHO DE 2024
CENTRO HISTÓRICO

Inspiração na bandeira do RS na retomada da Andradas

A palavra recomeço define com precisão o Centro Histórico de Porto Alegre. Cerca de 40 dias após a enchente inundar estabelecimentos comerciais, o cenário ainda está distante do considerado ideal. Na Rua dos Andradas, uma imensa bandeira do Rio Grande do Sul pode ser vista no mezanino do complexo gastronômico e cultural UP Food Art, em atividade há apenas sete meses no ponto.

- Somos gaúchos praticantes. Colocamos a bandeira para inspirar a vizinhança. Ela lembra quem somos e nossa capacidade de recomeçar - explica Émerson Maicá, 40 anos, um dos sócios- proprietários do espaço gastronômico e cultural.

O trecho da Rua dos Andradas da Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) em direção à Praça da Alfândega foi um dos atingidos pela cheia do Guaíba. Os dias foram de apreensão e teve quem sequer conseguiu dormir enquanto a água subia dentro de seus estabelecimentos. Foram momentos difíceis e de incerteza. Agora, a retomada acontece de forma lenta.

O proprietário da Padaria e Confeitaria Roma, Maikon Daltoe, 37, perdeu o sono naqueles dias quando barcos passavam em torno do Mercado Público. Ele fechou o estabelecimento no dia 3 de maio. E como contenção empilhou sacos de areia na porta, mas a água entrou. Chegou a 80 centímetros lá dentro e estragou os móveis em madeira. Foram 21 dias sem poder reabrir, mas agora já há clientes tomando café ou comendo doces no lugar.

- Teremos de reconstruir uma loja nova. Desde a parte elétrica, que é subterrânea, até o maquinário. O tempo que vamos ficar parados para reformar, e o fator econômico, porque o movimento ainda está bem abaixo do que era antes... - comenta Daltoe, estimando os prejuízos em R$ 600 mil.

O dono do Grelhados Soledade, Ildo Lando, 70, não esperava que a cheia de maio superasse a histórica de 1941. Apesar da surpresa, o empreendedor relata que teve tempo hábil para tirar as mercadorias e não sofreu perdas maiores.

Negociação

Questionado sobre como proceder em uma situação tão impactante, ele menciona a importância da negociação com os fornecedores.

- Tem que ter muita calma no momento. É o passo a passo. Vai negociando - diz, enquanto ajeita as mesas e cadeiras na calçada em frente ao restaurante.

No quarteirão seguinte, a água entrou 80 centímetros no Grelhados Veneza. O proprietário Romulo Zanon, 39, ainda tem bem viva na memória a catástrofe. Os refrigeradores de parceiros comerciais foram substituídos pelas próprias empresas, enquanto os dele foram consertados. Ele ainda compara a situação com o período da pandemia e acredita que a inundação foi pior, pois não pôde trabalhar no regime de telentrega ou no esquema de entregar o produto pela porta sem o ingresso do cliente.

- A enchente não era esperada. A gente estava vendo a água, mas não acreditava que ela subiria. Perdemos muito estoque, além dos dias parados e do movimento que não retornou ainda. Os prejuízos são imensos - lamenta, dizendo que jogar comida fora estragada foi a pior parte do processo.

Na esquina da Rua General Câmara (Ladeira) com a Andradas, a Banca Esfera já funciona normalmente. Mesmo acima dos degraus e no começo do aclive da lomba, a água alcançou 40 centímetros de altura. O proprietário Ricardo Maciel, 57, não chegou a ter perdas materiais, pois foi avisado a tempo por uma cliente quando a inundação se elevava no espaço. Assim, correu para levantar as publicações que comercializa, como revistas e jornais. Porém, foram mais de três semanas sem poder abrir e trabalhar.

- Foi uma sensação de incredulidade. Quando cheguei, me apavorei - recorda Maciel, pegando a trena para mostrar o ponto exato onde a água chegou dentro da banca.

ANDRÉ MALINOSKI

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