Quem está no controle?
Existem duas possibilidades de resposta à pergunta acima. Uma é fácil, a outra é complexa. Sim, é uma contradição. Recentemente, uma pessoa me disse, espantada: "O ano tá passando de forma muito rápida". Ao que eu respondi: "E vai ficar cada vez pior, somos uma sociedade premida pelo tempo. As redes sociais nos fazem ser cada vez mais imediatistas".
Essa pessoa sequer levantou os olhos do celular e continuou movendo o dedo para passar ao próximo vídeo. Não muito tempo atrás, costumávamos mandar cartas. Para receber uma resposta, era necessário pelo menos uma semana. Depois, com o e-mail, podíamos demorar um dia para responder e estava tudo bem. Hoje, com os aplicativos de mensagem, estamos desenvolvendo o hábito de perder muito tempo teclando no smartphone.
Quem está no controle é a ótima provocação feita pelo Fronteiras do Pensamento, um evento que começou há 18 anos aqui no Rio Grande do Sul. No dia 30 de abril, esteve em Porto Alegre, para dar início à temporada, o professor Stuart Russel, especialista em inteligência artificial. O pesquisador britânico que dá aula nos Estados Unidos é um dos signatários da carta que pede uma pausa no desenvolvimento da tecnologia. Outros 2,6 mil pesquisadores também assinaram o documento. O temor deles é que o avanço represente risco para a humanidade e a democracia.
Vivi um exemplo disso e posso contar. Em 2016, quando fui aos Estados Unidos para a cobertura eleitoral, assisti a comícios dos dois candidatos. Num dos eventos, perguntei a uma eleitora de Donald Trump os motivos que a levaram a votar no candidato republicano.
Ela me disse que Hillary estava doente. "Onde a senhora leu isso?", perguntei. "No Facebook", respondeu. Estamos cada vez mais vivendo em bolhas, como disse a escritora e filósofa francesa Muriel Burberry. Ela foi a segunda conferencista do Fronteiras. Fez uma manobra para chegar a Porto Alegre cujo aeroporto, como sabemos, está fechado.
Voou de São Paulo a Florianópolis e, de lá, veio de carro a Porto Alegre, onde deu uma palestra exuberante. Provocar e fazer pensar também são formas de nos animarmos em período tão difícil. A resposta fácil à pergunta do título é nós. A mais complexa é que nem todo mundo quer pensar e dar limites. Tem gente que se ilude e não percebe que está sendo levado por algo.
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