Direto da Redação
A temporada de caça às medalhas está em pleno andamento. Até 11 de agosto, data de encerramento dos Jogos Olímpicos de Paris, o brasileiro só quer saber de ouro, prata e bronze. Não importa a modalidade: o essencial é ter compatriotas no pódio. Até aí, nada demais. Os outros países também torcem por seus representantes.
O que me incomoda é a cultura do resultado imediato, que transforma atletas em heróis ou vilões num piscar de olhos. Rubens (Rubinho) Barrichello, Gustavo (Guga) Kuerten e Daiane dos Santos são exemplos emblemáticos desse comportamento injusto. Rubinho foi um dos mais longevos pilotos da Fórmula 1, onde permaneceu durante 19 anos. No entanto, mesmo reconhecido como talentoso, é até hoje motivo de piada por não conseguir repetir os feitos do lendário tricampeão Ayrton Senna, morto em 1994.
Três vezes campeão em Roland Garros, um dos templos sagrados do tênis mundial, o catarinense Gustavo Kuerten nunca foi motivo de gozação, mas sua trajetória também ilustra a instabilidade do apoio popular. Com suas vitórias, Guga colocou o tênis no calendário esportivo nacional. Porém, na medida em que uma lesão no quadril abreviou sua carreira exitosa, o interesse pela modalidade logo se esvaiu. O tratamento mais cruel foi reservado para a porto-alegrense Daiane dos Santos. A atual comentarista da TV Globo conquistou nove medalhas de ouro em copas do mundo de ginástica artística.
Ela foi a primeira ginasta brasileira, entre homens e mulheres, a conquistar ouro no campeonato mundial. Figura reconhecida e exaltada na modalidade, Daiane possui dois movimentos batizados com o seu nome: o duplo twist carpado (Dos Santos I) e a evolução do primeiro, o duplo twist esticado (Dos Santos II). Pois, mesmo com esse vasto e brilhante currículo, ela foi impiedosamente criticada por ficar em quinto lugar e não conseguir uma medalha na Olímpiada de Atenas, em 2004.
Claro que ninguém está proibido de torcer, longe disso. Só não podemos transformar os atletas em produtos descartáveis, que só têm valor com uma medalha no peito. Precisamos entender nossos competidores como indivíduos, pessoas como nós, passíveis de sentimentos, falhas e limitações. Ao fazer isso, não apenas seremos mais justos: vamos contribuir também para o desenvolvimento de um ambiente esportivo mais humano, participativo e inspirador. _
Antonio Carlos Macedo
DIRETO DA REDAÇÃO
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