26
de novembro de 2012 | N° 17265
PAULO
SANT’ANA
Quero deixar de
fumar
Quero
deixar de fumar
Estou
seriamente empenhado a deixar de fumar a partir do dia de hoje.
Não
sei por que não foi a partir de ontem, era domingo, talvez eu quisesse
aproveitar mais um dia de felicidade. Mas quero ver se a partir da meia-noite
de domingo consigo deixar de fumar.
Preciso
deixar de fumar. Meus pulmões devem estar atingindo o limite de sua resistência
ao enfisema. Enfisema incipiente eu já tenho, mas isso quer dizer que não tenho
ainda a lesão enfisemal, tudo indica que ainda há tempo para a salvação.
Como
todos já souberam por mim, tenho uma tontura incapacitante que me tirou a
alegria de viver.
E o
médico Matias Kronfeld arrisca dizer que minha tontura, para a qual não
encontrei ainda diagnóstico, se deve ao cigarro. Se eu conseguir deixar de
fumar, tomara que esta tontura tenha origem mesmo no cigarro, é muito difícil
que o seja, mas quem sabe...
Para
falar com franqueza, não acredito que tenha sucesso essa minha terceira
tentativa em deixar de fumar. Não creio porque esse vício está por demais
arraigado ao meu físico e à minha personalidade.
Mas
vou tentar, afinal, Deus não mandou ninguém vencer, mandou tentar. Darei
notícias a meus leitores sobre a evolução ou involução dessa minha tentativa
para mim histórica: se eu falhar agora, nunca mais conseguirei me livrar desse
terrível vício.
O
problema todo reside em que considero uma delícia incomparável fumar, com
certeza o maior prazer que desfruto. Se uma pessoa é viciada em comer churrasco
e é obrigada a deixar de fazê-lo, pode substituir esse vício, digamos assim,
por outro tipo de comida.
E eu
não tenho nada para substituir o cigarro. Maconha nunca me atraiu, jamais
fumaria, talvez porque seja uma prática ultrajante e antissocial.
Neste
instante em que escrevo esta coluna e assumo o compromisso de parar de fumar a
partir de hoje, não por casualidade estou fumando um cigarro, como que a me
despedir desse deleite que desfruto há cerca de 50 anos.
E
saboreio esse cigarro inconvicto de que deixarei de fumar a partir de hoje, até
mesmo porque essa carga de prazer que significa eu estar fumando é acompanhada
do remorso de que poderei, quem sabe, divorciar-me dessa prática.
Parece
meio confuso o que estou dizendo, vou tentar deixar de fumar a partir de hoje,
mas não acredito no êxito dessa minha tentativa.
Eu
tinha de acreditar. Afinal, deixar de fumar seria uma prova de que sou um homem
capaz de renúncia.
E
todo homem que não é capaz de renúncia não é, afinal, por fraqueza e falta de
vergonha na cara, verdadeiramente um homem.