ROGÉRIO
GENTILE
Uma estátua para Dirceu
SÃO
PAULO - José Dirceu passou o feriadão na Bahia, onde, num dia, curtiu o sol e a
praia com uma belíssima bermuda estampada e, no outro, foi homenageado por
companheiros petistas com uma paella e uma saborosa costela de bode.
Em
seu merecido descanso, teve tempo de sobra para refletir sobre o julgamento do
mensalão e a argumentação do ministro Toffoli contra o emprego de pena de prisão
para crimes contra o patrimônio público. Segundo Toffoli, que, por mera coincidência,
foi assessor de Dirceu, multas e a recuperação de valores desviados surtem mais
efeito "pedagógico" do que prender o responsável.
De
fato, é um absurdo obrigar uma pessoa como Dirceu, que "dedicou sua vida
ao Brasil e à luta pela democracia", como ele mesmo se descreve, a trocar
os prazeres da Bahia pelo sol quadrado de uma penitenciária.
Afinal,
coitado, ele não é o primeiro político a desviar recursos públicos e a comprar
apoio parlamentar. E, definitivamente, mandar político para a cadeia não faz
parte da tradição brasileira. Uma multinha seria mais do que suficiente para
servir de exemplo aos demais, não seria?
Até porque
não existem tantas provas contra Dirceu. É só uma grande coincidência, por
exemplo, ele ter se reunido com Valério e dirigentes do BMG num dia e o banco
ter liberado recursos para o mensalão dias depois. Também é só uma casualidade
o fato de sua ex-mulher ter recebido favores do operador do esquema.
O
problema é que o julgamento, em um tribunal formado em sua maioria por
ministros indicados por Lula e Dilma, foi "político", como diz o PT,
e permeado pela "paixão", como insinuou a presidente. Convenhamos, os
ministros tinham motivos de sobra para castigar o PT, que lhes impingiu um
emprego estafante, atulhado de processos e com sessões sonolentas.
E o
pior, como reclamou Ayres Britto na sua despedida do STF, com salários
defasados. Vingança pura, claro. Pensando bem, Dirceu merece ganhar uma estátua.