ELIANE
CANTANHÊDE
Triste pastelão
BRASÍLIA
- Não é séria uma CPI que começou para investigar o esquema suprapartidário e
suprarregional do Cachoeira e chega ao fim preservando todos os amigos do rei e
atingindo três alvos: o procurador-geral da República, a revista "Veja"
e um único governador -de oposição. Quem fez, de fato, esse parecer?
Os
três objetivos originais eram analisar documentos da Polícia Federal e do
Ministério Público sobre os negócios de Cachoeira, investigar as ligações
perigosas do então senador Demóstenes Torres com o esquema e escarafunchar as
relações da empreiteira Delta com autoridades de todos os Poderes e vários
Estados.
Mas
a CPI não avançou um pingo no caso Cachoeira; Demóstenes foi cassado à parte,
pelo Conselho de Ética do Senado, e nada foi apurado sobre a Delta, verdadeiro
banco de lavagem de dinheiro público, federal e estadual.
O
dinheiro saía do Dnit (responsável pelas estradas) e de órgãos de diferentes
Estados, entrava no saco sem fundo da Delta e saía para dezenas de empresas-fantasmas.
E daí em diante? Para quais contas e bolsos a dinheirama lavada escorria?
"Aí
está o ouro", grita Pedro Taques (PDT), ex-procurador e atual senador em
primeiro mandato e primeira CPI. Sem rastrear os recursos e saber quem eram os
destinatários finais, a CPI não cumpre seu papel, os culpados se livram, tudo
vira um lamentável pastelão.
Taques
e outros deputados e senadores que se autointitulam independentes tentam um
atalho, enviando um relatório informal e paralelo à Procuradoria-Geral da República.
Isso, porém, só tem um efeito moral e político, mostrando que ainda há quem
leve as coisas a sério no Congresso. Aliás, quem se leve a sério.
Na
prática, porém, não muda o destino -e o vexame- da CPI, que tem um erro de
origem: CPIs são instrumentos da minoria, nunca deveriam ser alvo de acordões
nem manipuladas pelo poder de plantão.
elianec@uol.com.br