quinta-feira, 22 de novembro de 2012


ELIANE CANTANHÊDE

Triste pastelão

BRASÍLIA - Não é séria uma CPI que começou para investigar o esquema suprapartidário e suprarregional do Cachoeira e chega ao fim preservando todos os amigos do rei e atingindo três alvos: o procurador-geral da República, a revista "Veja" e um único governador -de oposição. Quem fez, de fato, esse parecer?

Os três objetivos originais eram analisar documentos da Polícia Federal e do Ministério Público sobre os negócios de Cachoeira, investigar as ligações perigosas do então senador Demóstenes Torres com o esquema e escarafunchar as relações da empreiteira Delta com autoridades de todos os Poderes e vários Estados.

Mas a CPI não avançou um pingo no caso Cachoeira; Demóstenes foi cassado à parte, pelo Conselho de Ética do Senado, e nada foi apurado sobre a Delta, verdadeiro banco de lavagem de dinheiro público, federal e estadual.

O dinheiro saía do Dnit (responsável pelas estradas) e de órgãos de diferentes Estados, entrava no saco sem fundo da Delta e saía para dezenas de empresas-fantasmas. E daí em diante? Para quais contas e bolsos a dinheirama lavada escorria?

"Aí está o ouro", grita Pedro Taques (PDT), ex-procurador e atual senador em primeiro mandato e primeira CPI. Sem rastrear os recursos e saber quem eram os destinatários finais, a CPI não cumpre seu papel, os culpados se livram, tudo vira um lamentável pastelão.

Taques e outros deputados e senadores que se autointitulam independentes tentam um atalho, enviando um relatório informal e paralelo à Procuradoria-Geral da República. Isso, porém, só tem um efeito moral e político, mostrando que ainda há quem leve as coisas a sério no Congresso. Aliás, quem se leve a sério.

Na prática, porém, não muda o destino -e o vexame- da CPI, que tem um erro de origem: CPIs são instrumentos da minoria, nunca deveriam ser alvo de acordões nem manipuladas pelo poder de plantão.

elianec@uol.com.br