terça-feira, 27 de novembro de 2012



27 de novembro de 2012 | N° 17266
DAVID COIMBRA

A vantagem das mulheres

O que as mulheres têm, que nós homens não temos, é a maternidade. Não falo da maternidade realizada. Não, uma mulher não precisa ter filhos para ser boa mãe. Ao contrário, até. Às vezes, a concepção estraga o que a mulher tem de maternal. Algumas das melhores mães que conheço jamais pariram.

Mas uma mulher, qualquer mulher, sabe que, em geral, mulheres podem ser mães, e isso lhe dá a compreensão do ciclo da vida e do que é realmente importante, que são as pessoas, e então ela se torna um ser superior.

A possibilidade da maternidade. Basta isso para transformar uma mulher em um grande ser humano. Já o homem, para ser grande, precisa da grandeza. Precisa da façanha.

O Gre-Nal do próximo domingo é uma chance de alcançar a grandeza. Um jogo como esse é um jogo que entrará para a história, que será comentado daqui a 50 anos. É um jogo que pode fazer com que um homem se sinta, pelo menos por uns poucos dias, como se fosse uma mulher.

SÓ UM PODE PERDER

Só o Grêmio pode ser derrotado neste Gre-Nal do adeus do Olímpico. Para o Grêmio está em jogo o vice-campeonato brasileiro, que é importante, e a dignidade, que é muito mais importante.

O Inter, se for derrotado, não perde nada. E não perde nada pela razão óbvia de que não há mais nada a perder. O Inter joga repoltreado na serenidade de quem sabe que, aconteça o que acontecer, não sairá de campo pior do que entrou. Se perder, será apenas mais uma derrota; se empatar, já é um avanço; se vencer, bem, se vencer o Inter terminará o ano sorrindo, enquanto o Grêmio terminará no mínimo constrangido, se não arrasado.

Os riscos estão todos armazenados no lado do Grêmio. É um perigo. Porque, pelo menos em tese, só quem corre riscos pode se descontrolar, pode perder o ânimo ou mesmo a vontade de seguir em frente.

O Grêmio terá pela frente uma partida de decisão; o Inter terá pela frente uma partida de desfrute.

MOTIVADO

Por suas últimas declarações e por seu passado, o jogador que parece mais motivado para o Gre-Nal não pertence ao Grêmio, e sim ao Inter.

D’Alessandro vai entrar em campo rosnando.

MOTIVADOR

O Grêmio tem, no banco de reservas, um fator de desequilíbrio para o clássico: André Lima, com sua vibração, entra em campo no segundo tempo e muda o time. Mas, atenção, isso só acontece quando ele entra em campo no segundo tempo.

O MAIOR DO INTER

A maior atuação que testemunhei de um jogador do Inter em Gre-Nal foi de Paulo César Carpegiani, em 1975. Depois dos anos 70, o Inter nunca mais teve alguém da estatura técnica de Carpegiani. Antes havia Falcão e Figueroa, que podiam se ombrear a ele. Depois, não. Nem nos times mais vitoriosos, nem entre os grandes ídolos.

Carpegiani, para se ter ideia de quem era, era uma espécie de Xavi. Jogava com a bola grudada no pé, dando passes curtos e lúcidos, movimentando-se o tempo inteiro, indo até o local da ação e dizendo aos outros o que fazer. Não era um finalizador. Se fosse, seria perfeito. Um Xavi.

Naquele Gre-Nal, passou a tarde triangulando com Lula e Vacaria no lado direito da defesa do Grêmio. O lateral Cláudio Radar saía da área para tentar bloquear a jogada e ficava de bobinho. Pedia ajuda e ninguém o acudia. Terminado o jogo, 2 a 1 para o Inter, o governador Guazzelli suspirou, na tribuna do Olímpico:

– Precisamos urgente de um lateral-direito...

Foi o fim de Cláudio Radar no Grêmio.

O MAIOR DO GRÊMIO

A maior atuação que testemunhei de um jogador do Grêmio em Gre-Nal foi de Valdo, em 1987. Valdo era um meia de jogo macio, parecia jogar sem pressa, infiltrando-se aos poucos na defesa do adversário e minando-a por dentro, transformando-o em pasta sem forma.

Foi o que ele fez com o Inter naquela partida. Valdo parecia estar em todas as partes do campo ao mesmo tempo, ubíquo e invencível. Construiu um gol irrompendo a drible pela direita, construiu outro irrompendo a drible pela esquerda. No meio da área, Lima empurrava para a rede. Mas foi Valdo quem destruiu o Inter quase que sozinho. Em 18 minutos estava 3 a 0. Se Valdo continuasse jogando naquele ritmo, a goleada seria estrondosa. Mas, assegurada a vitória, Valdo passou a tocar a bola no meio e o Inter reagiu, marcando dois gols.

Naquela partida Valdo mostrou quem era: um jogador de estirpe superior.