quinta-feira, 29 de novembro de 2012



29 de novembro de 2012 | N° 17268
PAULO SANT’ANA


Os limites da ética

Confesso não ter opinião sobre esse atrito entre o ex-diretor do Daer José Francisco Thormann e o ex-secretário estadual de Infraestrutura e Logística deputado federal Beto Albuquerque (PSB).

Não tenho opinião, mas tenho muita curiosidade.

Em primeiro lugar, Beto Albuquerque declarou que tinha “confiança zero” em Thormann.

Foi aí que não entendi. Como é que, sendo o titular da secretaria estadual em que Thormann era diretor-geral do Daer, superior, portanto, do diretor, permitia que esse exercesse a sua função se tinha “confiança zero” nele?

Pode alguém me explicar isso? Se a confiança era zero, Beto Albuquerque tinha de demiti-lo. Não poderia continuar convivendo política e administrativamente com seu auxiliar sem confiar nele. Assim não há governo que funcione.

Outra coisa que atiça minha curiosidade vem a seguir. Thormann foi acusado de ter, como diretor do Daer, feito uma viagem ao Exterior às expensas de uma firma terceirizada que realiza serviços e obras para o Daer.

No dia seguinte, como tinha sido considerado de “confiança zero” pelo ex-secretário Beto Albuquerque, o ex-diretor revidou: “Ué, mas o Beto Albuquerque, como secretário estadual, também realizou viagem ao Exterior, por sinal em minha companhia, custeada inteiramente por empresa privada”.

A minha dúvida é a seguinte: essas viagens que membros do governo realizam ao Exterior em companhia de empresários que têm negócios com o governo são sempre custeadas pelas empresas privadas?

Honestamente, pensei que os membros dos governos pagassem suas despesas com viagens com recursos do erário público.

Mas agora apareceu a possibilidade de que quem paga sempre as despesas dos membros dos governos ao Exterior são as empresas interessadas em fornecer serviços ou obras para os governos. Se não pagam todas as viagens, vê-se agora que pagam algumas.

E aí é que eu pergunto: é ético empresa que tem negócio com o governo pagar por inteiro viagens ao Exterior de membros do governo? Eu sinceramente não sei se é ético, por isso não tenho opinião, tenho só profunda dúvida e aguçada curiosidade.

E tenho mais uma pergunta: uma empresa que negocia com o governo ou que pretende negociar não pode vir a ser favorecida em concorrência ou licitação se custear por inteiro despesas de membros do governo ao Exterior?

São dúvidas que eu tenho e que afloraram agora por esse atrito entre dois ex-membros do governo.

Por sinal, a abordagem desse assunto poderia servir para que se solenizasse com severidade um código sobre os limites da ética no relacionamento entre fornecedores do governo e membros do governo.

Porque esse código é desfeiteado é que eu, por exemplo, fico em dúvida se é ético ou não membros do governo viajarem ao Exterior com todas as despesas pagas pelos fornecedores do Estado.

Ficou muito confuso ultimamente no Brasil saber se é legítima ou se é contubérnio determinada relação entre governo e seus fornecedores.

Eu tenho sérias dúvidas, mas confesso que não tenho certeza.