terça-feira, 7 de janeiro de 2014


07 de janeiro de 2014 | N° 17666
EDITORIAIS ZH

OS PRAZOS DA COPA

São fortes os indícios de que o bom senso prevaleceu em mais um ensaio de desencontros entre a Fifa e o governo brasileiro, às vésperas da Copa do Mundo. Numa reação categórica às manifestações do senhor Joseph Blatter, o Palácio do Planalto apressou-se em rebater a suspeita levantada pelo dirigente de que o Brasil é o país que mais atrasou preparativos para o evento.

A troca de comentários, com o governo assegurando que as obras estarão prontas a tempo, levou a uma trégua, fazendo com que o presidente da Fifa recuasse em suas críticas, chegando a admitir que não há anormalidades no cronograma brasileiro. De qualquer forma, o novo episódio deixa evidente que a entidade e o governo não têm o mesmo ponto de vista em relação ao ritmo da execução de projetos, e que todos tiram lições desses confrontos.

Não é relevante que, em meio a desacertos, tente se identificar quem, afinal, tem razão. O que todos os envolvidos direta ou indiretamente na Copa devem levar em conta são as evidências em relação aos prazos e ao andamento dos trabalhos. Os próprios coordenadores dos projetos têm admitido que algumas frentes correm contra o tempo, em especial no cumprimento prioritário das metas estabelecidas para a conclusão dos estádios.

A imprensa, que vem acompanhando esse cronograma desde o início, cumpre seu papel de fazer uma cobertura vigilante das obras, porque esta é a sua tarefa, para que a população brasileira – e também os estrangeiros interessados na reali-zação do Mundial – mantenha-se sempre informada. E as informações, é preciso admitir, não têm sido as que todos gostariam de ter, nessa etapa decisiva dos preparativos.

É evidente que, assim como ocorreu na África do Sul, o Brasil concluirá muitos dos projetos a poucos dias do certame. O que poderia ser aceito como exceção, com raros exemplos de obras atrasadas, acaba formando um cenário preocupante. Admita-se, para concordar com o presidente da Fifa, que tivemos sete anos, desde o anúncio da escolha da sede da Copa de 2014, para planejar e levar adiante, sem atropelos, tudo o que o país necessita para realizar o mais grandioso evento do futebol. Não foi o que aconteceu.

O Brasil enfrenta, historicamente, atrasos em projetos de grande porte, devido à burocracia e às carências de planejamento. A Copa potencializa nossas deficiências e amplia desafios que o governo, as empresas e outras instituições envolvidas com o Mundial precisam superar na reta final, o que inclui precauções para que não ocorram aumentos de custos decorrentes da pressa, do improviso e também da esperteza.

A Copa, pelo seu legado, é um acontecimento com benefícios que não se limitam ao futebol, desde que a racionalidade e a austeridade acabem prevalecendo. Os atritos entre a Fifa e o governo têm o poder de acionar alertas, para que o país não desperdice uma oportunidade única de fortalecer sua reputação no Exterior.