09
de janeiro de 2014 | N° 17668
OLHAR
GLOBAL | Luiz Antônio Araujo
E no entanto ela se
move
Às
vésperas de completar três anos, a Primavera Árabe, que muitos julgavam
sepultada pelo triunfo do general Abdel Fatah al-Sisi no Egito e do ditador
Bashar al-Assad na Síria, emitiu dois importantes sinais de vitalidade nos
últimos dias.
O
mais importante teve como palco a Síria, onde as forças de Al-Assad vinham
obtendo sucessivos progressos militares desde que um acordo entre os Estados
Unidos e a Rússia em torno da destruição do arsenal químico de Damasco
pavimentou o caminho para a busca de uma solução negociada com a manutenção do
ditador no poder.
Desde
segunda-feira, grupos armados de oposição em Aleppo, segunda metrópole do país,
e Raqqa uniram forças contra o grupo fundamentalista Estado Islâmico do Iraque
e do Levante (Eiil), que proclama lealdade à Al-Qaeda. Essa organização,
financiada e armada pelos governos da Arábia Saudita e do Catar, ingressou no
território sírio no ano passado com o propósito declarado de engrossar a luta
pela derrubada de Al-Assad.
Não
foram necessários mais do que alguns meses, porém, para se voltar com requintes
de selvageria contra a oposição, de início os curdos (que são muçulmanos
sunitas, mas não árabes), e, em seguida, todo e qualquer combatente avesso a
seu domínio. Até mesmo a Frente al-Nusra, braço oficial da Al-Qaeda na Síria,
somou-se em algumas regiões à luta contra o Eiil, para logo em seguida propor
um cessar-fogo.
Outro
desdobramento significativo foi a decisão da Assembleia Constituinte da Tunísia
de rejeitar qualquer papel político à religião e afirmar a igualdade de gênero.
É fato que a Tunísia, berço do primeiro triunfo do levante árabe em janeiro de
2011, jamais foi território propício ao fundamentalismo. Ainda que a vitória do
partido Ennahda, de inspiração religiosa, nas eleições do ano passado possa ter
sugerido um rumo distinto, a decisão dos constituintes reafirma o rumo secular
do país.