04 de agosto de 2015 | N° 18247
ARTIGO - MARCELO RECH*
UM NOVO ALVO DA LAVA-JATO
Para o bem da democracia, é alvissareira a inclusão na Operação Lava-Jato de um site que, segundo a Polícia Federal, teria recebido recursos desviados da Petrobras em troca de apoio ao governo. A extensão da Lava-Jato a uma parte do mundo digital que sobrevive nas sombras do Estado é salutar também para a liberdade de expressão, porque uma imprensa livre pressupõe que jornalistas e veículos de comunicação não se subordinem a motivações que não ousam dizer seu nome.
Desde o início do governo Lula, houve uma proliferação de sites e blogs que, às custas dos cofres públicos ou de organismos paraestatais, se especializaram em detratar desafetos do PT. Tais sites guardam algumas características em comum: são bancados no todo ou em grande parte por dinheiro público, atacam veí- culos e outros jornalistas e clamam para que as verbas oficiais sejam usadas para boicotar meios de comunicação com linha independente ou crítica ao governo, exatamente aqueles a quem querem “regular”.
A visão de que o poder público tem direito de abrir o caixa para beneficiar aliados e perseguir os demais está na origem da mentalidade na qual viceja o germe da corrupção e que desembocou em escândalos como o mensalão e o petrolão. Por esse raciocínio torto, o dinheiro dos contribuintes pertence ao governo e aos partidos que o compõem, e não ao Estado, que deveria ser sempre isento e técnico na aplicação de seus recursos. No caso da imprensa, lembre-se, o uso técnico de verbas oficiais exige audiências transparentes e que sejam auditadas ou aferidas de forma independente.
Nos últimos anos, José Dirceu foi um apóstolo da ideia de que o PT precisava estimular uma imprensa que lhe fosse fiel. O ex-ministro tentou, sem sucesso, criar um jornal que centralizasse a filosofia geral que deveria imperar nos meios vinculados ao PT. O que ele conseguiu foi espalhar por uma rede de sites e blogueiros o teor de seus escritos no Blog do Dirceu e montar uma linha de defesa do partido – no que tem todo o direito e liberdade, contanto que não use o nosso imposto para sustentar seus propósitos.
Ao colocar na mira da Lava-Jato sites que subsistem com verbas oficiais, os investigadores poderão dar sensível contribuição para uma faxina no universo da mídia chapa-branca que drena prefeituras, governos e estatais Brasil afora. Financiadores da prática anacrônica de comprar aduladores e se blindar de críticas, alguns administradores deverão pensar agora duas vezes no uso político de verbas de publicidade. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o Tribunal de Contas do Estado começa a olhar para o tema e há possibilidade de que distorções em sites locais venham em breve à tona.
*Jornalista do Grupo RBS marcelo.rech@gruporbs.com.br