04 de agosto de 2015 | N° 18247
ARTIGOS - MARCOS TROYJO*
A AUTOSSABOTAGEM BRASILEIRA
“OBrasil sai dessa? ” “Como termina essa crise?” O paí deixou o céu da euforia rumo ao inferno do desalento.
A história mundial das tragédias endógenas mostra, no entanto, que o Brasil não está sozinho dentre os que sofreram por fracassos autoinfligidos.
Na Argentina, há um século, o vilão da prosperidade corroída é o nacional-populismo.
Na Itália e na Alemanha nos anos 1920-30, o totalitarismo não resultou de um vírus externo “plantado”, mas da adesão de povo e elite a abjetos sistemas de poder.
Quando, em 1940-41, o Japão militarista enxergou em possessões francesas, britânicas e holandesas desprotegidas no Pacífico “oportunidade dourada” para seu expansionismo, poucos japoneses levantaram-se em oposição.
Na China, a Revolução Cultural paralisou o país por uma década (1966-76). Estratagema de demônios estrangeiros? Não, das profundezas da mente de Mao. A atual propulsão brasileira ao inferno alimenta-se de cinco combustíveis.
O primeiro: má gestão macroeconômica que coloca o país às portas de perder o grau de investimento.
O segundo: miopia na estratégia de inserção internacional. Não trabalhamos para ingressar nas redes globais de valor. Num ranking de 150 países compilado a partir do percentual do PIB representado por exportações, estamos à frente apenas de Afeganistão, Burundi, Sudão, República Centro-Africana e Kiribati.
O terceiro: hipertrofia da economia política Estado- capitalista. O quarto: propinodutos nas estatais e consequências paralisantes para a atividade econômica da guerra à cleptocracia. O quinto: o pronunciado e lamentável déficit de liderança pública.
Contudo, no caos brasileiro não há o mais perigoso dos alinhamentos. Nações só descem realmente ao inferno quando elites complacentes operam no vácuo da falência múltipla de instituições. No Brasil, nem toda a elite é parasitária do poder de ocasião. E muitas instituições, da imprensa ao Judiciário, encontram-se em pleno vigor.
Sartre dizia que o inferno são os outros. O Brasil não pode argumentar o mesmo. Suas agruras são majoritariamente fruto dos próprios pecados. O Brasil tem de pôr fim à autossabotagem.
*Professor da Universidade Columbia, onde dirige o BricLab