sexta-feira, 7 de agosto de 2015



07 de agosto de 2015 | N° 18250 
MARCOS PIANGERS

Ser pai é comum


Ser pai é a coisa mais comum do mundo. Os 7 bilhões de pessoas no mundo vieram de um. Não do mesmo cara, imagina o cansaço do sujeito, mas todo nascimento, desses 7 bilhões, teve um dedinho de um homem (na verdade outra coisa). Mesmo assim, cada pai é um deslumbrado. Cada descoberta de gravidez é chocante. Cada parto é pateticamente acompanhado por um pai nervoso, atrapalhado, nauseado pelo sangue, dificultando a passagem de médicos e profissionais pela sala de parto. Todo pai é um atrapalhado. O atrapalhado mais comum do mundo.

Mesmo com toda a normalidade do evento, o pai ainda não está preparado. O vô não preparou o pai. Não deixou o pai brincar de boneca quando era criança, com medo de ele afeminar. Agora, o pai tem que aprender a segurar o bebê, a trocar fralda, a dar de mamar. O pai, pateticamente atrapalhado, aprende tudo isso. O pai aprende tudo. A acalmar a criança, a alimentá-la, a fazê-la dormir. O pai aprende a ver a criança crescer. O pai se orgulha com cada conquista infantil.

O pai se emociona com qualquer presente. Qualquer desenho em que a sua cabeça esteja grande demais, qualquer cartolina escrita “eu te amo”. São os presentes mais comuns do mundo, mas para o pai são únicos. O pai se emociona ao ver o filho falar pela primeira vez. Todas as crianças falam, um dia. Mas o pai acha que aquele é um momento histórico.

Alguns pais filmam o filho falando palavras embaralhadas. Alguns pais choram com isso.

O filho irá para a escola e o pai achará que cada nota alta é a prova de que é um filho fora do comum. Na formatura, serão 50 formandos, mas o pai achará que seu filho é especial. Serão 50 pais achando que seus 50 filhos são extraordinários, inteligentes demais, brilhantes demais. Todo final de semestre, milhões de alunos se formam no mundo. E milhões de pais acreditam que aquele é um momento único.

Ser pai é a coisa mais comum do mundo. Todos os dias nascem crianças, crescem jovens, se formam adultos. Todos os dias a paternidade se torna cada vez mais trivial, mais corriqueira. Ainda assim, cada pai se sente especial. Cada pai se emociona com cada momento comum. Todo pai é um apaixonado por banalidades. Como quando seu filho aprende a dirigir. Como quando seu filho se casa. Como quando seu filho tiver um filho.

Ser pai é a coisa mais comum do mundo. E, ainda assim, cada pai acha que é extraordinário. Porque, na verdade, é mesmo.